Ontem Já Era Tarde

“Se o chateias, mato-te”: o dia em que Jorge Mendes queria “matar” o jornalista da SIC Nuno Luz por causa de Maradona

A carreira no jornalismo desportivo levou Nuno Luz a conhecer algumas das maiores figuras do futebol. As histórias que tem para contar são, por isso, muitas. Como a que viveu em casa do empresário Jorge Mendes ou quando confrontou um árbitro com a fatura da viagem que tinha feito com a família paga pelo FC Porto.

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Na SIC desde 1994, Nuno Luz confessa que, a partir de certa altura, estar na presença de certos craques torna-se natural e não provoca qualquer agitação, mas houve um caso especial: “A figura que mais me impressionou foi Maradona. Lembro-me dele no seu auge. Quando o conheci, teve muito impacto.”

Nuno Luz estava na casa do empresário Jorge Mendes, em Madrid, a fazer um documentário sobre José Mourinho, quando foi surpreendido.

“Estávamos a almoçar, o Jorge Mendes não tinha dito nada a ninguém, tocam à campainha e, de repente, quando olhas, é o Maradona.”

O espanto, porém, não fez com que o jornalista da SIC perdesse a oportunidade de gravar algumas declarações do astro argentino: “O Jorge Mendes levantou-se. Eu e o Paulo Cepa, repórter de imagem da SIC, ficámos a conviver com o Maradona na sala.

O Jorge conhece-me e já me tinha dito para não chatear o Maradona nem tentar entrevistá-lo. ‘Se o chateias, eu mato-te’, disse-me. Mas o Maradona perguntou-me o que eu estava ali a fazer. Expliquei-lhe que era um trabalho sobre José Mourinho e ele disse-me que queria entrar.”

De repente, o Mendes voltou à sala e viu-nos já a entrevistar o Maradona. Chamou-me tudo, mas a culpa não foi minha [risos]. Foi o Maradona que pediu para entrar pela grande consideração que tinha por Mourinho.”

“Fui à porta do árbitro e mostrei-lhe a fatura da viagem que o FC Porto lhe tinha pago. Ficou muito aflito”

Nuno Luz fez parte da criação do programa “Donos da Bola”, na SIC, que se tornou uma referência da televisão portuguesa na década de 90.

“Todas as sextas-feiras à noite, o país parava para ver o programa. Ainda hoje, se a SIC partilhasse esses programas, seria um sucesso para as gerações mais novas. Ficavam a perceber como se fazia televisão.”

Foram muitas as reportagens que mostraram um lado obscuro do futebol português. Numa delas, o jornalista Nuno Luz mostrou que o FC Porto tinha o hábito de pagar viagens de férias a árbitros: “Não era um, nem dois. Eram muitos. Aquilo era uma tradição”, lembra.

“Tinha um molho de faturas com viagens pagas aos árbitros. Quando a reportagem saiu, nem havia hipótese de tentarem desmentir. Era inequívoco.”

Nuno Luz conseguiu falar com um desses árbitros: “Carlos Calheiros viajou para o Brasil, de férias com a família. Na fatura da Cosmos [agência de viagens] ele tinha dado o nome do meio, Amorim. Liguei-lhe e perguntei se podia falar com ele. Amavelmente, disse logo que sim. Nem perguntou qual era o assunto. Fomos a Castelo Branco, onde ele vivia, e quando chegámos, mostrámos logo a fatura e perguntei-lhe: ‘Como justifica esta viagem paga pelo FC Porto?’ Ele ficou muito aflito. Mas no futebol português, naquela altura, valia tudo. E nós desmascarámos isso.”