"Schmeichel queria que eu me calasse quando narrei o golo do Costinha. Estava com cara de quem comeu e não gostou"
Pedro Azevedo é um dos narradores em atividade mais antigos do país e tem marcado presença nos principais palcos do desporto português e internacional: “Tenho cinco campeonatos do Mundo, outros tantos da Europa e três finais europeias”, revela.
A larga experiência levou-o escrever o livro técnico “Relato de Futebol – narração na rádio, tv e internet”, editado pela Bluebook, como forma de partilhar o seu conhecimento: “Não havia nada deste género. É o primeiro livro sobre este tema em Portugal.”
Além da partilha de conhecimento são também várias as histórias passadas em diferentes estádios. Uma delas, lembra, chegou a provocar uma reação mais acalorada “de uma figura muita conhecida do futebol mundial”.
Na segunda mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões, em 2004, o FC Porto, então orientado por José Mourinho, deslocou-se a Old Trafford. Os dragões estavam em desvantagem até que Costinha, já nos minutos finais, marcou o golo que ditou o afastamento dos ingleses:
“Naquele momento, saltaram todos os portugueses que estavam no estádio, incluindo os narradores. Era um ambiente completamente adverso e aquele golo foi uma explosão de alegria. Relatei o golo com muita emoção, mas o senhor Peter Schmeichel não gostou.”
O antigo guarda-redes do Man. United, que também jogou no Sporting, estava a comentar o jogo e fez sinal para Pedro Azevedo se calar.
“Claro que não me calei, estava no exercício das minhas funções, mas ele não gostou. Teve de ser um elemento da agência de viagens que nos acompanhou a serenar a situação. Digamos que o Peter Schemeichel estava com cara de quem comeu e não gostou. Foi um momento difícil de digerir para ele.”
“Rui Costa foi meu comentador por um dia”
Em 1991, Rui Costa era um jovem da formação do Benfica que tinha acabado de chegar à primeira equipa. As águias foram jogar a Malta com o Hamrun, jogo que venceram por 6-0, e Rui Costa ficou fora dos convocados. O agora presidente das águias preparava-se para assistir ao jogo na bancada até que apareceu Pedro Azevedo.
“A Renascença tinha-me mandado a Malta para fazer dois jogos. O Benfica nesse dia e o FC Porto no dia seguinte que iria jogar com o Valetta. Nessa altura, não levávamos comentador. Geralmente pedíamos a um colega de outro órgão para comentar o jogo. Olhei para a bancada, vi o Rui Costa, apresentei-me, lancei-lhe o desafio e ele aceitou. Rui Costa foi meu comentador por um dia.”
Pedro Azevedo recorda que o então jovem jogador esteve à altura do desafio. “Ele é um excelente analista e soube comentar sem se comprometer até porque tinha ficado fora dos convocados e podia ter alguma frase menos abonatória para com o treinador.”
No dia seguinte, no jogo dos dragões, aconteceu o mesmo, mas com António Folha que também tinha ficado fora dos convocados:
“Como o futebol era diferente. Acho que hoje era impossível. Quase que seria preciso um despacho normativo para desencadear um processo desses.”
“Fatalidade de Fehér foi o momento mais dramático que relatei até hoje”
Pedro Azevedo estava a narrar o Vitória-Benfica, em 2004, em que o avançado húngaro do Benfica sucumbiu em campo.
“Infelizmente, eu e os meus colegas apercebemo-nos logo que a situação era grave. Foi o momento mais dramático que relatei até hoje. Ainda me custa descrever aquilo que se passou em Guimarães”, revela.
No sentido oposto, ao longo dos quase 40 anos de carreira, Pedro Azevedo lembra episódios bem mais animados. Uma dessas situações aconteceu num jogo em Viana do Castelo, onde teve de narrar dentro da cabine do speaker.
“Só havia lugar para um. Eu entrei e o funcionário do clube saiu. Só que naquela sala também se alugavam as almofadas para os adeptos se sentarem. Cada almofada custava 25 tostões. Nos primeiros dez ou quinze minutos, era eu a distribuir as almofadas. As pessoas pousavam o dinheiro e eu agarrava nas almofadas ao mesmo tempo que narrava o jogo.”