O Ministério Público acusa o juiz Ivo Rosa de ter desprezado a investigação da Operação Marquês e de ter adulterado a acusação, num recurso em que os procuradores pedem que sejam julgados todos os arguidos e por todos os crimes.
De 28 arguidos, passaram a ser cinco, e de 188 crimes, sobraram apenas 17.
Para o Ministério Público, a decisão do juiz Ivo Rosa serviu para expurgar toda a investigação.
A palavra é usada 47 vezes ao longo das mais de 1.800 páginas do recurso que pretende reverter a decisão instrutória da Operação Marquês.
No documento a que a SIC teve acesso, os procuradores dizem que o entendimento do juiz revela um menosprezo e uma incompreensão pelo trabalho de recolha de prova na fase de inquérito.
Dizem que a decisão recorre a interpretações erradas e viciadas e que faz uma leitura tendenciosa e adulterada da acusação, ao concluir que José Sócrates foi corrompido, não com 34 milhões de euros, mas com apenas 1 milhão e 700 mil, e não pelo Grupo Espírito Santo, Grupo Lena e Vale do Lobo, mas, afinal, apenas e só pelo amigo Carlos Santos Silva.
"O modo como as entregas em numerário, bem como os pagamentos foram realizados, nomeadamente, com interposição de terceiros, leva-nos a presumir que as entregas em numerário tinham como objetivo criar um clima geral de simpatia ou de permeabilidade por parte do primeiro-ministro", dizia o juiz no dia 9 de abril.
Em abril, o juiz transformou o alegado testa de ferro em corruptor, mas garantiu que não encontrou qualquer prova de um ato concreto de corrupção.
Os procuradores dizem agora que o juiz errou e que quase parece exigir o reconhecimento no notário dos pactos de corrupção investigados na Operação Marquês.
Acusam Ivo Rosa de manifestar um défice do conhecimento da vida real e uma incapacidade de análise crítica da prova.
O recurso, decidido pela Relação de Lisboa, pede a ida a julgamento de todos os arguidos e por todos os crimes da acusação.