João Duque, economista, questiona como se sustentam os 55 milhões pagos a David Neeleman, então acionista privado da companhia aérea TAP. Análise do comentador da SIC após as audições de terça-feira a Pedro Nuno Santos e João Leão na comissão parlamentar de inquérito à TAP.
"Tenho dificuldade em perceber por que razão se tenta evitar litigância", afirma.
Sobre o valor pago a David Neeleman, questiona como se sustenta os 55 milhões de euros pagos: "Qual é a base?".
"Sempre deixei resvalar para a Justiça. Acho que é o meu compromisso perante uma sociedade. Se não consigo justificar por que razão faço o acordo e às vezes é desconfortável, prefiro que alguém que está de fora me diga 'o valor é este, o que tem de pagar é isto', podendo o acordo até ser mais baixo".
Na comissão parlamentar de inquérito à TAP, João Leão, ex-ministro das Finanças, disse que os 55 milhões pagos a David Neeleman não resultam de uma fórmula, mas apenas da negociação bilateral.
"Percebemos bem o que é um processo negocial. Um processo negocial não é uma fórmula", respondeu o ex-responsável à deputada do PS Vera Braz.
A justificação deixa de ter "como base um valor estimado para ser um valor de negociação", aponta João Duque.
"Os ministros têm cobertura de responsabilidade ilimitada pela sua eleição, coisas que não acontecem noutros cargos ou funções quando estão a trabalhar com dinheiros públicos", explica.
Nesse sentido, João Duque tem dúvidas que um gestor público consiga "fugir com facilidade" a responsabilidades, se for confrontado com as razões de pagamentos.
Sobre os 3200 milhões de euros injetados na companhia aérea, o economista considera que Pedro Nuno Santos, ex-ministro das Infraestruturas, fez um "grande autoelogio" porque quis salientar que pôs a TAP a dar lucro.
"Por que razão a TAP vale tanto para Portugal? São invocados uns 10 mil milhões, número mágico, assente num estudo que nunca ninguém viu e que não se sabe porquê", remata.
O ex-ministro das Infraestruturas rejeitou a ideia de que o plano de reestruturação da TAP foi um desastre e sublinhou que foi o que permitiu salvar a companhia aérea em 2020.