A suspensão da administração da vacina da AstraZeneca, anunciada esta segunda-feira pelo Infarmed e pela Direção-Geral de Saúde (DGS), é para João Gonçalves, virologista e diretor do Instituto de Investigação do Medicamento (IMED), uma decisão “precipitada”. O especialista considera que as autoridades portuguesas deveriam ter esperado pela publicação da conclusão técnica e científica da Agência Europeia do Medicamento, prevista para esta quinta-feira.
“Nós temos casos no mundo que mostram que, quando há uma pausa de vacinação, as pessoas perdem a confiança na vacina. E essa perda de confiança é terrível porque as pessoas não vão querer ter a vacina da AstraZeneca. Depois vem uma vacina semelhante que é a da Johnson&Jonhnson e depois vão começar a ouvir que isto causa tromboses… É muito importante a confiança neste momento”, disse o virologista em entrevista à Edição da Noite.
O especialista avança ainda que essa desconfiança contribui também para um atraso ainda maior no plano de vacinação em Portugal – já associado ao período em que a vacina vai estar suspensa.
“O atraso vai ser sempre de alguns semanas porque depois há a desconfiança que se gera. As pessoas sabem que é a vacina da AstraZeneca, já não vão querer tomar essa vacina, vão atrasar o processo. As pessoas que tomaram a primeira inoculação ficam desconfiadas sobre o que vai acontecer na segunda inoculação”, prossegue João Gonçalves.
O diretor do IMED aconselha as pessoas a manterem-se tranquilas e destaca que as tromboses são “eventos mais comuns de acontecerem em pessoas mais velhas”: “Na Europa, uma pessoa em mil é capaz de ter um evento de trombose, quando comparamos com as pessoas vacinadas esse risco ainda é muito menor".
Para além disso, João Gonçalves estranha que as questões levantadas sejam apenas referentes à vacinada da AstraZeneca. Segundo o especialista, o número de ocorrências de tromboses em pessoas vacinadas com a Pfizer é semelhante ao registado entre indivíduos que foram inoculados com o fármaco da AstraZeneca.
“Eu acho muito estranho como é que se começa a levantar toda esta desconfiança à volta de uma vacina, quando, por exemplos, em Inglaterra – onde já temos 8 ou 10 milhões de pessoas vacinadas com as duas vacinas –os números de eventos de trombose são semelhantes entre as duas vacinas. É muito curioso que haja toda esta explosão de dados acerca da vacina da AstraZeneca e não se compare os números, não se diga o que está a acontecer com a vacina da Pfizer”, afirma ainda o virologista.
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