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Adesão da Guiné Equatorial é "vergonha e um erro monumental", diz João Soares

O deputado socialista João Soares considerou  hoje que a adesão da Guiné Equatorial à Comunidade de Países de Língua Portuguesa  "envergonha Portugal, envergonha a CPLP e é um erro monumental" que "reduz  muito o papel da CPLP no mundo".  

"Depois de (o antigo líder da Líbia Muammar) Kadhafi ter morrido, este  é o campeão mundial... é um disparate dizer que se vai converter à democracia", João Soares tece duras críticas ao Presidente da Guiné Equatorial (Reuters/Arquivo)
© Amr Dalsh / Reuters

A entrada da Guiné Equatorial, como membro de pleno direito da CPLP,  por consenso e sem votação, foi anunciada em Díli, onde está a decorrer  a décima cimeira de chefes de Estado e de governo dos países lusófonos.

"Admitirmos (na CPLP) uma das ditaduras mais longas do mundo e mais  corruptas é uma coisa que devia envergonhar as pessoas que têm um mínimo  de carácter", disse João Soares à agência Lusa . 

"Aquilo (a Guiné Equatorial) é uma ditadura torcionária, que pratica  a tortura, que elimina os adversários políticos, que continua a praticar  a pena de morte, ao contrário do que eles dizem... isto é uma coisa de uma  hipocrisia total e, portanto, estou profundamente envergonhado", sublinhou.

A entrada da Guiné Equatorial no bloco lusófono "é uma coisa miserável  que reduz muito a imagem, o papel e a importância da CPLP no mundo, como  é óbvio. Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és, é tão simples quanto  isso", declarou.  

João Soares considerou "um disparate" defender que a adesão da Guiné  Equatorial a um bloco democrático possa vir a favorecer mudanças democráticas  no país.  

"Não há nenhum exemplo de uma coisa dessas ter acontecido onde quer  que seja, ainda por cima com uma ditadura daquele tipo, que é uma ditadura  de carácter familiar, de um torcionário, de um tipo (o chefe de Estado da Guiné Equatorial Theodoro Obiang) que matou o tio para chegar ao poder e  que está há mais tempo no poder que o (presidente de Angola) José Eduardo dos Santos", argumentou. 

"Depois de  (o antigo líder da Líbia Muammar) Kadhafi ter morrido, este  é o campeão mundial... é um disparate dizer que se vai converter à democracia",  reforçou. 

O deputado socialista lamentou ainda a ausência da presidente do Brasil,  Dilma Rousseff, na décima cimeira da CPLP, em Díli.  

Entre todos os líderes do bloco lusófono, presentes em Díli, Dilma Rousseff  "é a única que tem pessoalmente a experiência da cadeia às mãos de um regime  torcionário, que foi a ditadura militar no Brasil, e tem a experiência da  tortura", disse.  

A Guiné Equatorial, que pediu adesão ao bloco lusófono em 2010, entrou  hoje na Comunidade de Países de Língua Portuguesa durante a décima conferência  de chefes de Estado e de Governo da CPLP, que decorreu pela primeira vez  na Ásia, no caso em Díli, Timor-Leste. 

O primeiro passo para a sua adesão ao bloco lusófono foi "a moratória  sobre a pena de morte" anunciada no início do ano pelo Governo equato-guineense  através de um decreto presidencial, o que levou o conselho dos ministros  da CPLP reunido em Maputo, Moçambique, a recomendar a acessão.  

Com um estatuto de observador desde 2006, mas ainda sem ter abolido  de forma definitiva a pena de morte, a Guiné Equatorial irá juntar-se aos  oito membros da CPLP: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique,  Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, os quais já aboliram aquela  forma de punição. 

Antiga colónia espanhola da África subsaariana, a Guiné Equatorial é  um dos maiores produtores de petróleo do continente e é liderada por Teodoro  Obiang desde 1979. No entanto, o país operou uma reforma política em 2011  para favorecer a democracia.  

 

     

Lusa