A União Europeia (UE) pediu hoje ao marechal Khalifa Haftar, o homem forte da fação que controla o leste da Líbia, para parar com a ofensiva militar contra as autoridades de Tripoli e para regressar à mesa de negociações.
"Apelo muito firmemente a todos os líderes da Líbia, em particular a Haftar, a pararem todas as operações militares e a voltarem à mesa de negociações sob a égide da ONU", afirmou a Alta Representante da UE para a Política Externa, a italiana Federica Mogherini, após uma reunião com os chefes da diplomacia europeus no Conselho de Negócios Estrangeiros, no Luxemburgo.
"Não adotamos conclusões, mas houve um claro consenso para pedir o fim de todas as operações militares na Líbia", frisou a representante comunitária.
Na Líbia, país imerso num caos político e securitário há vários anos, duas autoridades disputam o poder: um governo de união nacional líbio, estabelecido em 2015 em Tripoli, que é reconhecido pela comunidade internacional (incluindo pelas Nações Unidas) e que tem o apoio de milícias, e uma autoridade paralela que exerce o poder no leste do país, com o apoio do marechal Haftar, um militar dissidente do regime de Muammar Kadhafi, que caiu em 2011.
Federica Mogherini precisou que o apelo europeu foi essencialmente dirigido ao marechal Haftar, o homem forte da força denominada de exército nacional líbio (ANL, na sigla em francês) que apoia a fação que disputa o poder líbio a partir de Tobruk (leste) e que ordenou, na quinta-feira, o avanço das suas forças em direção a Tripoli.
"Quem lançou uma ofensiva se não Haftar?" declarou a Alta Representante da UE, destacando o sentido de união manifestado, neste momento, pelos Estados-membros sobre este momento de crise na Líbia.
"Os Estados-membros mostraram-se extremamente unidos. (...) Existiram, no passado, divisões e diferentes pontos de vista", reconheceu Mogherini, frisando, porém, que "desta vez todos os Estados-Membros entenderam a necessidade da UE se mostrar unida quando os atores regionais manifestam menos confiança em apoiar o processo das Nações Unidas".
A chefe da diplomacia europeia reforçou a ideia de que uma escalada militar deve ser evitada na Líbia perante o risco "de uma guerra civil".
"É absolutamente essencial que o processo permaneça nas mãos das Nações Unidas e de mais ninguém", concluiu Federica Mogherini.
O marechal Khalifa Haftar prosseguiu hoje com a sua ofensiva contra Tripoli e contra as forças do rival governo de união nacional líbio.
Confrontos provocaram algumas dezenas de mortos e mais de 2.800 deslocados desde quinta-feira passada
Esta ofensiva, que foi iniciada quando o secretário-geral da ONU, António Guterres, estava em visita ao território líbio, acontece a poucos dias de uma "conferência nacional" promovida pela missão das Nações Unidas na Líbia na cidade histórica de Ghadames (centro da Líbia).
A conferência, agendada para 14 a 16 de abril, terá como objetivo preparar um roteiro para a estabilização do país.
O emissário da ONU para a Líbia, Ghassan Salamé, assegurou, no sábado, que a conferência será mantida nas datas previstas, exceto em caso de "circunstâncias maiores".
Hoje à tarde, o tráfego aéreo em Tripoli foi suspenso após um ataque aéreo que atingiu o aeroporto de Mitiga, o único que opera na capital líbia.
Em finais de fevereiro, a ONU anunciou um novo acordo alcançado em Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos) entre os dois poderes líbios rivais para a organização de eleições na Líbia, mas sem estabelecer um calendário.
Vários acordos para tirar a Líbia da crise foram anunciados ao longo dos últimos anos, mas nenhum foi concretizado.Um acordo intergrupos sobre uma nova Constituição e a realização de eleições é necessário para alcançar uma estabilidade institucional, um regresso a um cenário securitário estável e uma recuperação económica no Líbia, segundo defendem várias vozes internacionais.
Lusa