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Democracia dos EUA está "por um fio", diz especialista em extremismo

Heidi Beirich considerou que o terrorismo doméstico, o aumento da violência, a não-regularização de redes sociais, incitamentos ao ódio e racismo estão cada vez mais a transparecer na sociedade norte-americana.
Democracia dos EUA está "por um fio", diz especialista em extremismo
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A especialista norte-americana em extremismo Heidi Beirich considerou esta quinta-feira que os Estados Unidos estão a segurar-se "por um fio ao sistema democrático", enquanto as redes sociais permitem aumentar a interação dos grupos extremistas.

Em conferência virtual para a escola de relações internacionais do Baruch College de Nova Iorque, Heidi Beirich considerou que o terrorismo doméstico, o aumento da violência, a não-regularização de redes sociais, incitamentos ao ódio e racismo estão cada vez mais a transparecer na sociedade norte-americana.

Sem que os líderes políticos estejam a travar estas tendências e sem consequências duras para os que participaram no ataque ao Capitólio, em Washington, a 6 de janeiro, a democracia está a ver-se ameaçada, apontou a autora e cofundadora do projeto de investigação Projeto Global Contra Ódio e Extremismo (GPAHE, na sigla em inglês).

Usando exemplos de outras democracias que no passado se tornaram campos de batalha e momentos históricos em que a imprensa deixou de ser livre, Heidi Beirich afirmou: "Sinto que estamos a segurar-nos por um fio ao sistema democrático (...) Isso é o que me preocupa e que me deixa muito nervosa".

O país está a assistir também ao "envolvimento de grupos extremistas nos mecanismos democráticos" como membros do grupo Proud Boys, que já recebem cargos públicos oficiais pelo partido Republicano no Estado do Nevada.

A nível local, dentro de comunidades, cidades ou vilas é onde "o extremismo está realmente a emergir", alertou a especialista, sendo que eleições locais já resultam na colocação de membros de grupos extremistas ou de milícias em conselhos e comissões locais.

Os dois grandes partidos políticos dos Estados Unidos, para a autora, são como "duas fações de uma guerra": um "partido que defende os interesses dos brancos, explicitamente (o Republicano) e um partido que representa a América da diversidade (o Democrata)".

Os grupos extremistas, de supremacia branca, neonazis, grupos paramilitares, milícias e crentes de teorias da conspiração, todos com características e propósitos diferentes, estão agora a juntar-se e a andar "de mãos dadas" contra o governo, alertou ainda Heidi Beirich.

Foi uma mistura destes grupos diferentes a "juntar forças" que esteve presente em Washington em 6 de janeiro para tentar impedir a certificação dos votos eleitorais de cada Estado que resultaram na derrota do ex-Presidente Donald Trump pelo democrata Joe Biden.

Donald Trump, antiga estrela de televisão e milionário, "era o elo que unia esses movimentos díspares", afirmou a especialista, "tendo injetado racismo desde o primeiro dia", e a recusa de condenar diretamente os grupos de supremacia branca.

Os apoiantes do "MAGA" (Make America Great Again), campanha de Donald Trump, sentiam-se como "protetores" do Presidente entre 2016 e 2020, disse Beirich, membro do conselho consultivo rede de estudos internacionais sobre ódio, International Network for Hate Studies.

Na opinião de Heidi Beirich, Trump "normalizou o ódio" e "puxou esses grupos das sombras", aproveitando-se da fama que tinha nas redes sociais Facebook e Twitter.

Segundo a autora, "cada pedaço da extrema-direita é maior, mais dinâmico e mais em contacto com os seus próprios membros por causa do espaço online".

"É difícil dizer o quanto é que a pandemia acelerou o extremismo, certamente que o fez", mas o problema existia há anos, com ataques violentos entre cidadãos, acrescentou.

As medidas de confinamento, restrições aos movimentos, imposições de máscaras ou mandados de vacinas "mobilizaram mais pessoas para o extremismo" e protestos anti-lockdown, enquanto os 'rallies' do movimento "Black Lives Matter" (Vidas Negras Importam) receberam ainda mais a ira dos grupos de ódio e fizeram crescer os estereótipos de que pessoas negras, latinas ou imigrantes são criminosas, sublinhou Beirich.

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