O ex-chefe de Estado de Angola, José Eduardo dos Santos, morreu esta sexta-feira aos 79 anos. Questionada sobre se este óbito marca o início de uma nova era no país, Ana Gomes disse não ter a certeza.
"Acho que essa era talvez tenha sido iniciada em 2017, quando ele [José Eduardo dos Santos] se afastou, com a perceção que o povo angolano teve de que ele não seria eterno e que podia, e devia, haver mudanças políticas para trazer um espaço de expressão porque sob o regime autocrático a liberdade de expressão estava completamente coartada", sustentou.
Na opinião da comentadora da SIC, "a mudança fez-se aí, politicamente ele desapareceu aí. Só espero que o funeral não dê ensejo a que a briga que já temos instalada na família se alargue ao povo angolano porque sabemos que no próprio MPLA há diferentes fações que todos querem instrumentalizar".
A realizar-se, o funeral acontecerá, destacou Ana Gomes, "num período em que tensões porque estamos a caminhar para umas eleições em agosto".
Mas mais uma vez, salientou que "enquanto José Eduardo dos Santos morre com uma fortuna colossal, os filhos, os amigos, os privilegiados do regime dele são ricos que nem nababos, o povo angolano num país tão extraordinário, cheio de recursos, está na miséria".
"Há gente a morrer à fome porque o regime de José Eduardo dos Santos não soube desenvolver esse extraordinário potencial de Angola e se deixou ficar à mercê da chamada maldição do petróleo, que é a fonte da renda que alimenta o Estado", apontou Ana Gomes.
Com a eleição de João Lourenço "houve algumas melhorias, apesar de tudo houve algum arejar", mas "há muito ainda por fazer".