A ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock, alertou esta segunda-feira que a credibilidade da União Europeia (UE) está em jogo após a eclosão do alegado escândalo de corrupção no Parlamento Europeu ligado ao Qatar.
"É um incidente incrível que tem de ser esclarecido com toda a força da lei, porque também se trata da credibilidade da Europa", disse Baerbock em declarações à imprensa, à chegada à reunião que os ministros dos Negócios Estrangeiros da União celebram hoje em Bruxelas.
A chefe da diplomacia alemã não descartou a possibilidade de haver "consequências em diferentes áreas" porque nunca se viu "um caso como este", embora tenha pedido que a justiça esclareça previamente o sucedido.
O seu homólogo austríaco, Alexander Schallenberg, também não descartou "dar passos importantes", num caso que afeta "a instituição que representa o coração da democracia europeia", embora "antes de tirar conclusões" é preciso esperar para ouvir "o que a justiça determinará".
"Seria um verdadeiro escândalo que fosse verdade o que vemos nos meios de comunicação", disse o ministro austríaco.
O alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, ex-presidente do Parlamento Europeu entre 2004 e 2007, disse também que esta é uma notícia "muito preocupante".
"É um assunto sério (...). Queremos que seja tudo esclarecido sobre algo que parece ser particularmente grave", afirmou a ministra dos Negócios Estrangeiros de França, Catherine Colonna.
Questionado sobre o assunto, o ministro dos Negócios Estrangeiros checo, Jan Lipavsky, cujo país ocupa a presidência rotativa da UE neste semestre, disse que o Qatar é "um parceiro importante", com quem as relações "têm que ser construídas em políticas como direitos humanos e trabalho".
Além da socialista Kaili, há mais pessoas acusadas dos mesmos crimes
Kaili, atualmente detida na Bélgica, está envolvida num caso de corrupção relacionado com subornos do Qatar para influenciar as decisões do Parlamento Europeu relativas à celebração do Mundial de futebol naquele país.
A juíza belga que investiga o caso acusou no domingo a vice-presidente do Parlamento Europeu, a socialista Eva Kaili, dos crimes de participação em organização criminosa, branqueamento de capitais e corrupção.
Segundo os meios de comunicação belgas "Le Soir", "Knack" e "L'Echo", além da socialista Kaili, a juíza acusou dos mesmos crimes o companheiro de Kaili, também seu assessor no Parlamento Europeu, Francesco Giorgi; um lobista de Bruxelas; e também o ex-eurodeputado italiano Pier Antonio Panzeri, em cuja casa foram encontrados mais de meio milhão de euros.
As duas pessoas que a juíza deixou em liberdade, mas com medidas de coação, são o pai de Eva Kaili, que foi apanhado em flagrante pela polícia na sexta-feira ao tentar fugir com sacolas cheias de notas, e o secretário-geral da Confederação Internacional de Sindicato, Luca Visentini.
Numa investigação ainda por encerrar, a polícia também fez buscas no domingo na casa do eurodeputado socialista belga Marc Tarabella e, em Itália, um tribunal colocou em prisão domiciliária a filha e a mulher de Panzeri.
A Autoridade de Combate ao Branqueamento de Capitais grega confiscou hoje bens (imóveis, contas bancárias, empresas) no país de Eva Kaili e dos seus familiares mais próximos.