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Submarino Titan: caso haja resgate, os cinco passageiros terão um "trauma bastante complexo"

A doutora Susana Lourenço, psicóloga, acredita que as condições adversas de profundidade e de desconforto pelo espaço confinado complicam a crise psicológica dos tripulantes e pode dificultar a conservação de oxigénio.

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A psicóloga Susana Lourenço analisa o impacto que esta experiência poderá ter nos cinco tripulantes a bordo do submarino Titan, preso ou perdido no Atlântico. A doutora acredita que, em caso de resgate, haverá um trauma que terá de ser acompanhado com grande proximidade.

Desde domingo que o submarino Titan está sem comunicar e os seus cinco ocupantes têm recursos limitados de comida, oxigénio e, até mesmo espaço. Nestas circunstâncias, o impacto psicológico e as crises podem ser “muito agudas” de acordo com Susana Lourenço.

“É uma questão muito sensível são momentos de crise psicológica muito agudas. Por si só, gerir as nossas emoções num ambiente fechado já é desafiante, quanto mais a quatro mil metros de profundidade. As pessoas passaram de certeza de grande oscilação comportamental e hormonal e é fácil perder o controle”, justifica Susan Lourenço.

Para além disso, este estado de ansiedade acaba por ser prejudicial à conservação de oxigénio, por ter um limite de reserva de 96 horas que, a partir desta quinta-feira, foi ultrapassado.

"Num estado de pânico, fazemos algo normal que é hiperventilar, libertamos mais dióxido de carbono e sabemos que temos reservas de oxigénio e o sistema que equilibra o CO2, mas tudo isto está a chegar ao seu limite, porque este submarino não é suposto estar tanto tempo debaixo de água", acrescenta Susana Lourenço.

Relativamente ao espaço dentro do submarino, também é algo que aumenta a perturbação psicológica pelo enorme desconforto que causa. É confinado, pequeno e escuro.

“Sim, um espaço que não é nada confortável também, uma pessoa pode estar com as pernas esticadas à vez, enquanto as outras têm de estar desconfortáveis. Relembro que o submarino nem tem lugares, são placas. Isto acresce a todas as variáveis que dão ainda mais stress psicológico”, explica a psicóloga Susana Lourenço.

Mais. Antes de embarcar nesta expedição, os ocupantes assinaram um termo que mencionava que as pessoas podiam sofrer trauma psicológico. No entanto, isso não significa diretamente algo patológico, a procura de aventura e risco podem ser traços de personalidade, mas também podem querer marcar uma posição na sociedade.

"Procura de risco e aventura não tem de ser patológica, neste caso não conheço as pessoas. Pode ser que estas pessoas vivem num extremo da sociedade, não têm posses financeiras que a maioria das pessoas têm, podem comprar experiências que os diferenciam do resto da população e são testemunhos da sua exclusividade e prestígio", analisa.

Caso exista um resgate, o tipo de apoio que terá de ser fornecido será intenso e próximo, tendo em conta o trauma com que cada um sairá, adaptado à sua circunstância e personalidade.

"Será um trauma bastante complexo, as pessoas estão em condições adversas há muito tempo, este apoio psicológico vai ter de ser bastante próximo e vocalizado no que vivenciaram. São pessoas muito diferentes ali dentro e o trauma será distinto. O maior denominador comum é o facto da tamanha profundidade e a incerteza do salvamento", explica.

A busca pelo submarino turístico perdido no Atlântico entrou na fase mais crítica. O oxigénio a bordo do Titan terá terminado poucos minutos após as 12:00 (hora de Lisboa) e ainda não há qualquer pista sobre o local onde possa estar. A área de busca foi alargada e é agora quase do tamanho do Alentejo.