Mais de 660 pessoas foram detidas em França, na última noite, a terceira de protestos na sequência da morte de Nahel, um jovem de 17 anos pela polícia. Foram destacados 40.000 polícias para tentar travar os distúrbios nos bairros sociais em Nanterre, arredores de Paris, e noutros bairros desfavorecidos da capital francesa. Para Hermano Sanches Ruivo, vereador dos Assuntos Internacionais da Câmara de Paris, há um sentimento de injustiça e um claro aproveitamento da situação que fazem com que a noite passada tenha sido mais complicada.
“Há claramente essa noção de injustiça, a luta, entre aspas, contra uma certa imagem das instituições, o sentimento de que a República, por várias razões, não está a responder às necessidades e o facto dos mais jovens não acreditarem no futuro ou terem um sentimento que ninguém os apoia na vida”, explica Hermano Sanches Ruivo, acrescentando que existem também pessoas que aproveitam completamente a situação para ações de “vandalismo puro”.
O vereador da Câmara de Paris considera que, nesta fase, o recolher obrigatório e o próprio estado de emergência “parecem ser as únicas soluções para acalmar a situação".
Hermano Sanches Ruivo diz que vai haver uma reunião de emergência na Câmara de Paris e centenas de municípios estão a aguardar o que a presidência vai fazer. Sabe-se que o chefe de Estado, Emmanuel Macron, deverá encurtar a sua presença em Bruxelas, onde se encontra a participar numa cimeira europeia, para regressar a Paris.
Como se pode travar a violência?
Para o lusodescendente, a solução para o problema deverá passar pela jovens, levando-os a “acreditar mais e comprometê-los mais com o sistema, com a democracia”.
"Aquilo que pode ajudar a resolver situações como esta, pelo menos a dos jovens, é dar-lhes mais garantias de estabilidade no futuro.
Claramente devia começar na própria escola e agora nesta fase é preciso tentar acalmar o jogo e dar provas concretas, o que nunca foi feito na realidade, aí é que está o problema."
O vereador da Câmara de Paris recorda que situações como a Nahel infelizmente não são novas, que "no ano passado tivemos mais de uma dúzia de realidades de pessoas que morreram com tiros da polícia em situações que muitas vezes eram claramente necessárias".
Nahel: “Além dos estudos, estava ligado a uma equipa de râguebi”
Nahel foi morto com um tiro no peito durante um controlo de trânsito depois de se recusar a obedecer às autoridades. A idade mínima para conduzir legalmente em França é também de 18 anos.
Hermano Sanches Ruivo lembra que Nahel seria um jovem com objetivos, "além dos estudos que estava a fazer, estava ligado a uma equipa de râguebi, portanto, via no desporto uma das atividades”.
Há também informações que indicam que Nahel seria, desde 2020, conhecido das autoridades por infrações de direito comum e, em fevereiro de 2022, foi acusado pela utilização de matrículas falsas, manipulação de bens roubados e condução sem seguro. Também foi acusado de resistência à autoridade.