As diligências diplomáticas estarão a condicionar o avanço da invasão de Israel na Faixa de Gaza. O Presidente norte-americano desloca-se esta quarta-feira a Israel. Joe Biden vai encontrar-se com o primeiro-ministro israelita e também com o líder da Autoridade Palestiniana. Espera-se pela incursão terrestre, ao mesmo tempo que se espera que sejam libertados os reféns que estão em Gaza. Perante todo este impasse, coloca-se a questão: do que é que Israel estará à espera para avançar? Maria João Tomás, especialista em Médio Oriente, traça os cenários possíveis, num conflito onde se espera que “haja muita violência” e que pode escalar a toda a região.
“Estará Israel à espera de ter um consenso para que não o acusem de atos de guerra, por exemplo, ou uma carnificina que provavelmente é isso que estamos à espera que aconteça. Portanto, estão à espera que haja um corredor humanitário para poder ver chegar provisões básicas ao povo da Palestina, sobretudo aos da Faixa de Gaza”, começa por referir Maria João Tomás.
Por outro lado, a especialista admite também que poderá estar “à espera de reunir mais esforços bélicos”. “Este compasso de espera estará a conseguir mais armamento, é que este tempo que nós estamos a ter agora é precioso para ambos os lados. Para se conseguirem equipar devidamente para o que aí vem, vêm aí temos muito difíceis”.
"Governo de Netanyahu teve uma humilhação extrema a 7 de outubro"
A especialista em assuntos de Médio Oriente lembra o posicionamento do Governo israelita e sublinha que se trata de “um Governo muito violento, um governo ultranacionalista, ultra ortodoxo, de extrema-direita”.
“Israel, o Governo de Netanyahu teve uma humilhação extrema dia 7 de outubro, um Governo que, quando tomou posse, Netanyahu disse que queria que Israel fosse a maior potência militar e era já realmente uma grande potência militar, portanto imaginemos o que é que estaria naquela cabeça quando ele disse isto”, considera Maria João Tomás.
“O ministro da Segurança Interna fez o que fez na altura do Ramadão, a entrada das forças em Al-Aqsa com aquela força toda, brutal e já tinha sido acusado de crimes de guerra e de crimes de ódio contra muçulmanos, só para termos uma noção do que é que estamos a falar”, sublinha.
Hamas bem recebido “para fazer sombra à OLP”
Segundo Maria João Tomás, “o Hamas foi muito bem recebido pelas autoridades de Israel para fazer sombra à OLP, Organização da Libertação da Palestina".
“Se olharmos bem para aquilo que se está a passar, nós temos um Mahmoud Abbas que neste momento está calado (…) A única voz que neste momento representa a Palestina é o Hamas, mal ou bem, os palestinos neste momento na Faixa de Gaza estão reféns dos dois lados”.
Escalada regional do conflito
“A minha preocupação é uma escalada regional, isso eu tenho muito medo”, realça a especialista.
“Não se pode evitar neste momento, acho que é só por diplomacia é que vamos conseguindo minimizar os efeitos, porque já estamos a ver pressão do Hezbollah e dos grupos da Irmandade Muçulmana na Síria, que estão a fazer já troca de fogo com Israel para fazer pressão sobre Israel e para que Israel não esteja tão focado em Gaza”, explica Maria João Tomás, que alerta também para a perigosa relação da Síria com a Rússia.