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Guterres pede cessar-fogo em Israel e "entrega contínua de ajuda" a Gaza

A situação humanitária necessita de um "compromisso para muito mais", por parte de Israel e do movimento islamita Hamas, afirma o secretário-geral da ONU. A organização confirma a entrada de 20 camiões com ajuda humanitária para a Faixa de Gaza.

Guterres pede cessar-fogo em Israel e "entrega contínua de ajuda" a Gaza
AMR ABDALLAH DALSH

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou este sábado que a população da Faixa de Gaza precisa de uma "entrega contínua de ajuda à escala necessária", depois de terem entrado apenas 20 camiões pela passagem de Rafah, no Egito.

A situação humanitária necessita de um "compromisso para muito mais", por parte de Israel e do movimento islamita Hamas, e de um cessar-fogo, afirmou o antigo primeiro-ministro português.

"Uma caravana de 20 camiões do Crescente Vermelho egípcio está a circular hoje [sábado]. Mas o povo de Gaza precisa de um compromisso para muito, muito mais, uma entrega contínua de ajuda a Gaza à escala que é necessária. Estamos a trabalhar incansavelmente com todas as partes para o conseguir", afirmou António Guterres, num discurso proferido na Cimeira da Paz, que decorre na chamada Nova Capital Administrativa do Egito, a leste do Cairo.

Na sexta-feira, Guterres deslocou-se à passagem de Rafah, que liga o Egito ao enclave palestiniano, para supervisionar os preparativos para a abertura da fronteira, após dias de espera pela autorização israelita, e a reparação da estrada que liga a Gaza, danificada pelos bombardeamentos.

"Ontem fui à passagem de Rafah. Vi um paradoxo: uma catástrofe humanitária que se desenrola em tempo real. Por um lado, vi centenas de camiões cheios de alimentos e outros bens essenciais. Por outro lado, sabemos que, do outro lado da fronteira, há dois milhões de pessoas sem água, alimentos, combustível, eletricidade e medicamentos", afirmou.

O secretário-geral da ONU sublinhou que estes camiões "têm de circular o mais rapidamente possível, de forma sustentada e segura, do Egito para Gaza".

Durante o seu discurso, afirmou que os objetivos a curto prazo da ONU devem ser claros, incluindo "assistência humanitária imediata, irrestrita e sustentada para os civis sitiados em Gaza, a libertação imediata e incondicional de todos os reféns", bem como "esforços imediatos e dedicados para impedir a propagação da violência que está a aumentar o risco de alastramento".

Para fazer avançar todos estes esforços, Guterres apelou para "um cessar-fogo humanitário já".

ONU confirma que 20 camiões com ajuda humanitária entraram em Gaza

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) confirmou este sábado que 20 camiões com comida, água e medicamentos entraram na Faixa de Gaza, controlada pelo grupo islamita Hamas, através da passagem de Rafah.

O vice-diretor do gabinete do OCHA nos territórios palestiniano, Andrea De Domenico, indicou à agência EFE que a Cruz Vermelha egípcia lidera a operação de entrada da assistência no enclave palestiniano.

O responsável admitiu que esta ajuda não vai ser suficiente para os palestinianos que se encontram em Gaza, onde vivem 2,3 milhões de pessoas, das quais 1,4 milhões, segundo a agência da ONU, estão deslocados internamente devido aos bombardeamentos israelitas na parte norte do território.

De Domenico indicou que há negociações entre as partes envolvidas para que a entrega de ajuda seja "sustentável" ao longo do tempo.

Da parte egípcia de Rafah, voluntários disseram à EFE que não entraram ambulâncias nem camiões com combustível.

A passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, é a única saída para o exterior da Faixa de Gaza, já as restantes passagens fronteiriças são com Israel.

Esta fronteira estava encerrada desde o início dos bombardeamentos israelitas ao território, como represália pelo ataque do Hamas a Israel no passado dia 7 de outubro

De acordo com as autoridades israelitas, mais de 1.400 pessoas foram mortas em território israelita pelos combatentes do Hamas desde 7 de outubro, a maior parte das quais civis que foram baleados, queimados vivos ou mutilados no primeiro dia de ataque dos combatentes de Gaza.

Segundo o exército israelita, cerca de 1.500 combatentes do Hamas foram mortos na contraofensiva que permitiu a Israel recuperar o controlo das zonas atacadas.

Na Faixa de Gaza, 4.137 palestinianos, na sua maioria civis, foram mortos nos bombardeamentos levados a cabo pelo exército israelita em represália, segundo o Ministério da Saúde do Hamas em Gaza.