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Entrevista SIC Notícias

Governos ocidentais estão "sem capacidade de resposta racional" aos acontecimentos no Médio Oriente

Rui Henrique Santos, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais, considera que há "incapacidade e falta de liderança das chancelarias ocidentais em ter uma voz única" em resposta à guerra entre Israel e o Hamas. "A capacidade de resposta começa a fugir desde a Casa Branca até ao Eliseu".

O presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu
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O investigador do Instituto Português de Relações Internacionais, Rui Henrique Santos, considera que as palavras de António Guterres não foram efetivas e antagonizaram Israel. Diz ainda que os governos ocidentais não estão a ser capazes de responder racionalmente aos acontecimentos no Médio Oriente.

Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre o conflito no Médio Oriente, o secretário-geral das Nações Unidas disse que os ataques do movimento radical islâmico Hamas "não aconteceram do nada", frisando que o povo palestiniano "foi sujeito a 56 anos de ocupação sufocante".

Rui Henrique Santos diz que as palavras de Guterres não foram efetivas, no sentido de não ajudarem a resolver a situação, “antes pelo contrário, antagonizam Israel”.

“Eu acho que António Guterres, talvez da forma errada, da forma discursiva errada, conseguiu fazer o que nestes dias ninguém tem feito, ou seja, não dar apenas um lado do bem, nem dar apenas um lado do mal. Conseguiu construir nuances dentro de um discurso e conseguiu realmente evidenciar que, quer de um lado, quer do outro, existem bons, existem maus, existe uma história que deve ser lida muito mais do que apenas demonizar o outro".

Os riscos de um corte diplomático de relações entre Israel e a ONU

Rui Henrique Santos não acredita que se chegue ao ponto de um corte de relações, apesar da reação do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Eli Cohen “era a expectável”.

“Neste momento, a existir um corte de relações entre Israel e a ONU seria uma rutura completa, quer na ajuda humanitária atual, quer na tentativa de resolver o conflito e, ainda mais importante, na consolidação do processo político de 2 Estados que é necessário e indispensável no futuro”.

Reunião entre Hezbollah, Jihad Islâmica e Hamas

Para Rui Henrique Santos esta reunião de grupos islâmicos palestinianos e libanês “ainda não significam um alastrar do conflito”.

“No momento ainda não se verifica a potencialidade de desafiar Israel e, mais importante, os Estados Unidos. E, mais importante, talvez toda a comunidade ocidental que se ponha ao seu lado”.

Mais preocupante é o Irão.

As declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão ”são um bocado alarmantes” quando diz que “se for necessário todo o peso estatal do Irão para evitar a continuidade da escalada do conflito, escalando eles ainda mais o conflito".

Esforços diplomáticos por parte dos aliados de de Israel

O Presidente francês continua na região e hoje tem ainda encontro com o rei da Jordânia.

“O grande balanço que eu que eu acho que deve ser feito é a incapacidade e a falta de liderança das chancelarias ocidentais. Tem-se visto uma incapacidade quer nas chefias, quer nos executivos, quer nas lideranças militares, em ter uma voz única".

"Obviamente que os desafios são muito grandes. Obviamente que o choque do ataque do Hamas foi bastante significativo, mas a capacidade de resposta, de uma forma racional aos acontecimentos, começa a fugir desde a Casa Branca até ao Eliseu."