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Ana Gomes desvaloriza queixa-crime do ministro da Defesa sobre estaleiros de Viana

A eurodeputada Ana Gomes desvalorizou hoje  o anúncio de que o ministro da Defesa vai avançar com uma queixa-crime por  difamação no âmbito do processo de subconcessão dos estaleiros de Viana,  salientando que mantém "tudo o que disse". O processo surgiu na sequência de dúvidas levantadas publicamente pela  eurodeputada sobre alegadas relações entre o ministro Aguiar Branco e o grupo privado Martifer. 

A eurodeputada Ana Gomes lembrou que estão em causa os empregos de 600  trabalhadores, das suas famílias e de toda a atividade económica da zona de Viana do Castelo. (Lusa/Arquivo)

"O senhor ministro faça o que entender, que eu vou fazer o que eu  entender. Talvez essa queixa leve a que haja um inquérito na Assembleia  da República e assim se faça uma verdadeira investigação a este processo  muito nebuloso e pouco transparente de destruição dos estaleiros navais  e da passagem dos ativos a uma empresa provada", afirmou Ana Gomes à agência  Lusa. 

Uma fonte do gabinete de José Pedro Aguiar Branco disse na segunda-feira  que o ministro da Defesa Nacional vai apresentar uma queixa-crime contra  Ana Gomes e outros autores de "declarações difamatórias" sobre o processo  de subconcessão dos estaleiros de Viana. 

"Já se iniciaram os procedimentos inerentes à apresentação da queixa-crime,  pelo ministério, contra os autores de declarações difamatórias produzidas  nos últimos dias, nomeadamente da eurodeputada Ana Gomes", disse a mesma  fonte. 

O processo surgiu na sequência de dúvidas levantadas publicamente pela  eurodeputada e socialista sobre alegadas relações entre o ministro Aguiar Branco e o grupo privado Martifer. 

Em declarações hoje à Lusa, Ana Gomes disse que mantém "tudo o que disse"  sobre os estaleiros navais, reforçando que "é preciso fazer" uma investigação.

"O que eu disse é que é preciso investigar. O processo é tão contrário  aos interesses nacionais, à doutrina europeia em matéria de segurança e  defesa (...), tão pouco transparente com uma única empresa envolvida no  processo e outra excluída por um e-mail que não terá chegado a tempo, segundo  li na imprensa, que tem de haver uma investigação", sublinhou.  

A eurodeputada Ana Gomes lembrou que estão em causa os empregos de 600  trabalhadores, das suas famílias e de toda a atividade económica da zona de Viana do Castelo. 

"Sabemos que há muitas indústrias que dependem da laboração dos estaleiros  de Viana (...). Este Governo nem se dignou a disponibilizar os 3 milhões  de euros que a empresa precisava para cumprir contrato com os asfalteiros  para a Venezuela que viabilizariam a laboração da empresa", disse. 

Na opinião de Ana Gomes, todo o processo é uma sucessão de "atos de  má gestão, má política, de elementos perturbantes, destruidores dos interesses nacionais" e dos trabalhadores. 

"Por isso, mantenho tudo o que disse, que é preciso investigar que tipo  de interações estão por trás deste contrato e tudo o que seja no sentido  desse investigação incluindo a queixa-crime do ministro da Defesa é bem-vindo",  salientou. 

Questionada sobre o anúncio do presidente da Martifer, Carlos Martins,  em entrevista publicada hoje no Diário Económico, de que serão criados mil postos de trabalho num prazo de cinco anos com os novos contratos que está  a desenvolver naa América Latina e no norte de África, Ana Gomes disse que  "estas afirmações não garantem condições idênticas" às que os trabalhadores  tinham. 

"Mesmo que os trabalhadores ou parte deles sejam contratados, não há  garantias de que daí resultem as mesmas condições contratuais de anos e  anos de serviços que muitos deles têm", disse. 

Para Ana Gomes, as declarações de "Carlos Martins ou de quem quer que  seja da empresa privada valem o que valem". 

"Nós sabemos que a empresa não tem especial competência na gestão de  estaleiros deste tipo como não tem também ativos financeiros visto que estar  ela própria deficitária e para o Estado o contrato é ruinoso", disse. 

Lusa

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