Os dois iraquianos não terão sido apanhados totalmente de surpresa quando foram detidos. Os irmãos sabiam há mais de um ano que eram vistos como suspeitos de pertencerem ao Daesh, escreve esta quinta-feira a revista Sábado.
Ammar Ameen sabia, pelo menos desde junho de 2019, que a recusa ao pedido de asilo se devia a motivos de "segurança" e teve conhecimento, em julho de 2020, que corria um inquérito crime no qual estava a ser investigado por suspeitas de pertencer ao grupo extremista.
O jornal Público adianta que antes de ser detido, Ammar recorreu em março para o Tribunal Europeu dos Direitos humanos para não ser expulso de Portugal.
Os dois homens terão entrado em Portugal em 2017, infiltrados num grupo de refugiados que veio da Grécia. São dois irmãos com 32 e 34 anos, ambos residentes em Lisboa, onde trabalhavam no setor da restauração e num call center. Eram investigados há quatro anos pela Unidade Nacional Contraterrorismo da Polícia Judiciária e preparavam-se para sair do país.
Estão indiciados pela “prática de crimes de adesão e apoio a organização terrorista internacional, de terrorismo internacional, e contra a humanidade", mas "não foram identificados indícios de que tivessem cometido quaisquer crimes desta natureza em território nacional".
Um dos iraquianos suspeitos de terrorismo foi ajudado por uma funcionária do SEF
Um dos irmãos detidos em Lisboa, por estar ligado ao Daesh, foi ajudado por uma funcionária do SEF.
Terá tentado uma autorização provisória de residência quando o homem já estava sinalizado como sendo uma ameaça para o país. O Ministério Público diz que os irmãos apareceram em vídeos de propaganda do Daesh.
Na semana passada, os inspetores da Polícia Judiciária traziam na mão um mandado para deter Ammar Ameen, um dos irmãos, por suspeitas de ligações ao Daesh. Mas acabaram por levar também um computador, documentos, cartões de telemóvel, um revólver e uma munição.
Parte do despacho de indiciação a que a SIC teve acesso mostra que em 2019 começou uma relação com uma portuguesa que trabalhava para organizações não governamentais de ajuda a imigrantes, em Portugal.
Ao longo do tempo, foi ajudando o homem a tentar chegar ao objetivo: a autorização de residência provisória. A namorada recorre a um contacto, uma funcionária do SEF. Há chamadas telefónicas e um encontro entre os três, que é testemunhado ao longe pelos inspetores.
A funcionária é suspeita de tentar beneficiar Ammar Ameen com um pedido de autorização de residência. O pedido foi apreendido nas buscas aos quartos dos irmãos. Ao que a SIC apurou, pediu transferência para outro serviço do Estado.
O Ministério Público considera que Yasir aprendeu português, trabalhou num restaurante, mudou de emprego e, por isso, integrou-se na sociedade. Já Ammar foi mantendo uma postura considerada instável e conflituosa. Isolou-se e passava os dias em frente ao computador.
O Ministério Público diz ter provas sobre a participação dos irmãos no grupo extremista. Encontrou na internet vídeos e fotografias de propaganda do Daesh onde os irmãos aparecem.