Eduardo Cabrita pediu, esta sexta-feira, a demissão do cargo de ministro da Administração Interna, no mesmo dia em que foi conhecida a acusação do Ministério Público sobre o acidente do veículo onde circulava o ministro. A decisão, como explica, foi tomada para evitar um “aproveitamento político” contra António Costa e o PS.
“Não posso permitir que este aproveitamento político, absolutamente intolerável, seja utilizado no atual quadro para penalizar a ação do Governo, contra o primeiro-ministro ou mesmo contra o PS. E, por isso, entendi solicitar hoje [sexta-feira] a exoneração das minhas funções de ministro da Administração Interna ao primeiro-ministro”, disse Eduardo Cabrita, dirigindo um agradecimento profundo a António Costa pela “oportunidade de partilhar estes seis anos de dedicação intensa à causa pública.
O acidente que aconteceu a 18 de junho de 2021, na A6, provocou uma vítima mortal. Segunda a acusação apresentada pelo Ministério Público, o veículo seguia na via da esquerda a autoestrada, a uma velocidade de cerca de 163 km/h – ou seja mais de 40km/h acima do legalmente permitido.
Eduardo Cabrita lamentou a “trágica perda irreparável” e expressou “solidariedade” para com a família do trabalhador. Afirmou também que o exercício das funções no período posterior ao acidente foi “difícil”, tendo sido possível graças à “solidariedade” do primeiro-ministro.
O governante justificou ainda a razão para ter mantido o silêncio sobre o acidente, afirmando que qualquer declaração poderia ser interpretada “como uma interferência num processo que segue aquilo que são os seus trâmites”. Cabrita manifestou ainda confiança nas instituições e no apuramento dos factos que deverão prosseguir daqui para a frente em tribunal.
As conquistas enumeradas no adeus de Cabrita
Antes de anunciar formalmente a demissão, Eduardo Cabrita enumerou os feitos que considera terem marcado o seu mandato na tutela da Administração Interna. Dos incêndios à segurança, ficou apenas por referir as polémicas em que se viu envolvido ao longo dos últimos quatro anos.
“Assumi estas funções num contexto particularmente difícil para o país, em verdadeira situação de trauma nacional na sequência dos incêndios que em outubro, como antes em julho desse ano, provocaram a morte a mais de uma centena de portugueses”, começou por dizer o ministro, que foi nomeado depois da demissão de Constança Urbano de Sousa.
Cabrita referiu que Portugal teve os “melhores resultados do século” no que toca ao número de ocorrências de incêndios e de área ardida. Em 2021 – um ano muito marcado por fogos florestais na Europa – Portugal teve “o menor número de incêndios da última década, com uma área ardida 78% abaixo da média da última década”.
Além dos incêndios, Eduardo Cabrita focou-se na segurança, sublinhando que Portugal é “um dos países mais seguros do mundo”. Os indicadores registados, segundo o ministro, foram os mais baixos de sempre, quer de criminalidade geral, quer de criminalidade violenta e grave.
Sobre as migrações, Cabrita lembra que o país abriu as portas ao acolhimento de migrantes a partir de navios no mediterrâneo, destacando a receção de 500 afegãos. Referiu também a atuação das forças de segurança.