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As promessas (e críticas) dos partidos aos apelos do Presidente Marcelo

Se a Esquerda deixa críticas aos recados dados pelo Presidente da República, à Direita, o líder do maior partido da oposição deixa uma promessa.

As promessas (e críticas) dos partidos aos apelos do Presidente Marcelo
ANTONIO PEDRO SANTOS/Lusa

Num discurso marcado pelos perigos da ditadura e pela importância da democracia, com o Presidente Marcelo a apontar o dedo aos governos, que “tendem quase sempre a ver-se como eternos”, e às oposições, que "quase sempre a exasperarem-se pela espera", lembrando que "nada é eterno" e que “a democracia é por natureza o domínio da alternativa”, o chefe de Estado vincou: em democracia “existe caminho para todos”.

O “apelo forte” a que Montenegro promete responder

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Em reação às palavras de Marcelo, no final da cerimónia oficial das comemorações do 112.º aniversário da implantação da República, o líder social-democrata defendeu que esta visão de Marcelo Rebelo de Sousa é "muito pertinente" nos dias de hoje.

"Vejo nisso um apelo forte do Presidente da República a todos os agentes políticos: aos que governam, para terem políticas transformadoras, reformistas que possam resolver os problemas com que os portugueses se deparam no dia-a-dia; às oposições, para a assunção da responsabilidade da exigência, do escrutínio, da fiscalização e da criação de alternativas", indicou, afastando-se a si e ao PSD de qualquer movimento de extremismo político.

"Temos uma história que fala por nós, não temos nada a ver com movimentos de extremismo político, não temos nada a ver com movimentos fascistas, xenófobos. Escusam de tentar colar-nos a essa ligação, porque ela não existe é uma ficção", acrescentou, deixando críticas ao Governo pelo "acumular de casos, de descoordenação, de dúvidas, que tem, infelizmente, envolvido o Governo nos últimos meses, contribuem para degradar o ambiente político e o ambiente de confiança que os cidadãos têm nos seus dirigentes".

Presidente Marcelo "não aprendeu com a história", critica IL

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o líder parlamentar da Iniciativa Liberal (IL) acusou o Presidente da República de não ter aprendido com a história, em matéria de governos e alternativas, indicando que o que tem existido em Portugal é uma alternância e coxa.

"O Presidente da República fez um paralelo histórico bastante interessante e puxou pelas alternativas e da exigência", mas "parece que o Presidente da República não aprendeu com a história", observou Rodrigo Saraiva, acrescentando que “temos um problema, é que não tem havido alternativa na história da democracia em Portugal. O que tem havido é uma alternância e uma alternância coxa. Basta ver que o PS está a governar 20 dos últimos 27 anos”.

E, prosseguiu, Marcelo Rebelo de Sousa “tem sido infelizmente um bom exemplo da pouca exigência que tem de existir sobre os poderes, começando pelos governos e também as oposições (…). Temos feito o nosso trabalho, sobretudo para demonstrar que tem de existir uma alternativa (…), gostaríamos [também] que o Presidente da República fizesse o que tem de fazer”.

A mensagem que faltou no discurso de um Marcelo "resignado"

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Em declarações aos jornalistas, o líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, qualificou a intervenção do chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, como "algo resignada".

"Se a democracia não é um dado adquirido para todo o sempre, ela tem de ser trabalhada quotidianamente, e um dos aspetos que nós tivemos no passado e que ameaça o presente é o descontentamento pela quebra da qualidade de vida, o empobrecimento", disse, acrescentando que o empobrecimento no país “é real, como a inflação, que está galopante” mas também "no poder de compra, na salvaguarda da vida das pessoas e na garantia de direitos fundamentais: a alimentação, a habitação".

"Desse ponto de vista, não tivemos nenhuma mensagem nem do senhor Presidente da República nem, já agora, do senhor primeiro-ministro na reação que teve depois", considerou Pedro Filipe Soares, vincando que António Costa limita-se a “dizer que está tudo bem, que o Governo vai continuar a fazer o que tem feito”.

Acontece que, alegou o bloquista, os socialistas não têm "nenhumas soluções para a crise da habitação, para o galope das taxas de juro", estão a governar de "forma autoritária e arrogante de governar" e a "resignar-se perante o empobrecimento do país".

Falta cumprir a Constituição, o recado do PCP

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A líder parlamentar do PCP, Paula Santos destacou que Marcelo Rebelo de Sousa pediu não só "democracia na Constituição e nas leis", mas "democracia nos factos, democracia com cada vez mais qualidade, melhores e mais atempadas leis, justiça, Administração Pública, controlo dos abusos e omissões dos poderes, prevenção e combate à corrupção das pessoas e das instituições".

"[Ora] a situação do nosso país no plano económico e social coloca a necessidade de se dar cumprimento à nossa Constituição, naquilo que a nossa Constituição coloca no plano da democracia política, económica, social e cultural", disse a comunista, assinalando que "a realidade que vivemos no nosso país, de agravamento das condições de vida, das famílias, dos salários e das pensões, do aumento dos preços de uma forma especulativa, a partir de aproveitamento dos grupos económicos, as dificuldades no acesso à saúde, à habitação, dificuldades no plano da segurança social e da educação, exigem respostas".

Respostas que passam, segundo o PCP, pela "valorização dos salários e das pensões, do controlo e da fixação de preços e da tributação dos lucros dos grupos económicos, mas também respostas no sentido do reforço dos serviços públicos, seja na educação, na saúde, na segurança social, na garantia do direito à habitação".

CDS aproveita apelo de Marcelo para fazer outro

Em comunicado enviado à SIC, e assinado pelo presidente do CDS, o partido “assinala do discurso do Presidente da República o alerta relativamente à necessidade de construção permanente das democracias e ao risco da ascensão dos extremismos”, num momento em que, pode ler-se, “Portugal é hoje uma manifestação destes riscos, assente na destruição da classe média cada vez mais reduzida e com rendimentos disponíveis exíguos, em resultado de cargas tributárias absurdas que sustentam as opções do socialismo”.

“O extremismo de esquerda e direita em Portugal são realidades que crescem na demagogia sem ideias, nas promessas impossíveis (…) e no apoio do próprio PS, que patrocinando-o, procura dividir o espaço político (…). Aliás, a extrema-direita em Portugal e o PS têm uma relação simbiótica que interessa e aproveita a ambos”, refere Nuno Melo, aproveitando para sublinhar “neste contexto” o que diz ser a “determinante recuperação política do CDS”.

Mais. O CDS aproveita também para destacar “a profunda degradação do Governo, que desde janeiro acumula casos sucessivos em quase todas as áreas sectoriais, minando a confiança dos portugueses nas instituições democráticas e contribuindo dessa forma para o enfraquecimento do próprio regime”.

O recado do Chega ao Presidente da República

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Foi já durante a tarde desta quarta-feira que o presidente do Chega, André Ventura, comentou o discurso do Presidente Marcelo deixando também um recado do chefe de Estado.

“Marcelo Rebelo de Sousa diz que a oposição não tem feito o seu trabalho e nós estamos de acordo, mas ao mesmo tempo ele falha ao não se identificar a ele próprio também como um desses fatores, ou seja, tem Marcelo Rebelo de Sousa enviado sempre para o Tribunal Constitucional as normas quando devia fazê-lo? Tem chamado o Governo à atenção em muitos casos - como o do aeroporto entre Pedro Nuno Santos e António Costa ou agora no caso de Manuel Pizarro (…) Isto não é fazer escrutínio ou ser exigente, é abrir portas permanentemente para o Governo”, criticou.

Neste sentido, acrescentou, “fica claro e evidente que há noção de todos os agentes políticos, inclusive o Presidente da República, que o Governo está a entrar numa espiral de cada vez mais descontrolo, mas agora conter esse descontrole cabe não só à oposição, mas também ao Presidente da República”.

[Notícia atualizada às 18:15]