A polémica indemnização que Alexandra Reis recebeu aquando da saída da TAP, levou à queda de Pedro Nuno Santos. Na noite de quarta-feira, o ministro anunciou a sua demissão, que foi aceite por António Costa. Para os jornalistas José Gomes Ferreira e Bernardo Ferrão, a saída do ministro das Infraestruturas não esclarece as dúvidas que este caso levantou.
“Tem de ser esclarecido, em pormenor, quem é que sabia o quê. E a investigação da Inspeção-Geral de Finanças (IGF) deverá incidir sobre isso e sobre os aspetos jurídicos da legalidade de se fazer a operação com conhecimento ou desconhecimento, no caso, do anterior ministro das finanças”, afirma José Gomes Ferreira em análise no Jornal da Noite.
José Gomes Ferreira considera que este caso pode atingir a administração da TAP, mas alerta que, primeiro, é preciso esperar pelo resultado da investigação da IGF, que irá determinar se houve ou não legalidade na negociação da indemnização e de todo o processo de saída de Alexandra Reis.
“Quem faz um voluntarismo de negociar para indemnizar por um valor que até poderia ter sido muito mais alto, de 1,5 milhões de euros, que depois até parece que foi reduzido e dá a ideia que conseguiram uma grande negociação… Vamos ver se é assim. Fica só por discutir a questão dos elevados salários que são praticados numa empresa em situação económica difícil – que são muito elevados mesmo faxe ao panorama internacional”, remata.
O jornalista lembra que Fernando Medina assumiu o cargo de ministro das Finanças depois de ter sido negociada a indemnização, mas estranha que não tenha havido “o cuidado” de perguntar no ministério das Infraestruturas – que tutela a TAP – se tinha “acontecido alguma coisa” com Alexandra Reis.
Bernardo Ferrão também considera que a demissão do ministro não seja o ponto final neste caso, uma vez que “ainda há muita coisa por explicar”. O jornalista considera que a explicação dada por Pedro Nuno Santos não “convence completamente”.
“Pedro Nuno Santos dizer que não sabia de nada é também estranho, porque ele era o ministro da tutela. Ele sabia do mau ambiente que havia, na altura, com a Alexandra Reis e a presidente da TAP. Aliás, quando Humberto pedrosa sai da TAP, foi Pedro Nuno Santos que disse que Alexandra Reis também podia sair”, lembra Bernardo Ferrão.
Além disso, o jornalista sublinha que o ministro das Infraestruturas “quase que se comportava como CEO da TAP”, ou seja, “sabia tudo o que se passava na TAP e agora vem dizer que não sabe de uma indemnização de meio milhão?”.
Sobre a nomeação de Alexandra Reis para a NAV e depois para secretária de Estado do Tesouro, Bernardo Ferrão considera que as explicações dada pelos elementos do Governo “não convencem”.
“No limite estão a pecar por omissão. Se não sabiam, deviam saber. Como é que o ministro das Finanças permitiu que Alexandra Reis entrasse para a NAV? Não sabia nada do passado dela? não foi feito nenhum trabalho de escrutínio sobre o passado de Alexandra Reis? Não soou um alerta no ministério das Finanças de que havia uma indemnização de meio milhão de euros pago a Alexandra Reis e que ela iria assumir a presidência da NAV”, questiona.
Bernardo Ferrão sublinha ainda que este caso “mostra que há um país a diferentes velocidades”, em que, por um lado, o Governo olha para uma indemnização de meio milhão “como se fosse uma coisa normal” e, por outro, o país discute “a crescente inflação e os problemas cada vez maiores para os portugueses”.