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Catarina Martins sai da liderança do Bloco de Esquerda

Por “razões políticas”, Catarina Martins não será recandidata na próxima convenção do Bloco de Esquerda. No discurso, alertou para a "instabilidade da maioria absoluta" e para um futuro de “velhos fantasmas, ódios racistas e os poderes de sempre”.

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Catarina Martins anunciou esta terça-feira que, por razões políticas, não será recandidata na próxima convenção do Bloco de Esquerda. Sai da liderança do partido, mas mantém-se como deputada, na Assembleia da República.

O anúncio foi feito esta terça-feira numa conferência de imprensa na sede do BE, em Lisboa.

"Comuniquei aos e às ativistas do Bloco de Esquerda que não serei candidata a coordenadora na próxima Convenção Nacional do Bloco [de Esquerda] , que se reúne em maio deste ano", anunciou Catarina Martins.

Aos jornalistas, recordou o percurso de 10 anos na coordenação do Bloco de Esquerda e assinalou as vitórias e derrotas do partido.

"Tivemos uma pesada derrota eleitoral há um ano (…) E vitórias eleitorais como em 2015 e 2019, em que alcançamos e mantivemos os melhores resultados de sempre do Bloco", disse Catarina Martins, assinalando também as "vitórias e derrotas nos movimentos, nas leis e nas lutas sociais".

Descreveu os 10 anos como "um tempo extraordinário" e relembrou o início da geringonça, em 2015, que pôs "a direita fora do Governo" e "deu início à recuperação da vida de quem trabalha": "A geringonça foi o princípio do respeito".

"Foi um tempo extraordinário em que o país melhorou. Ficou muito por fazer, bem sei, mas com a força que nos confiaram foi possível nesse período avançar nas primeiras trincheiras no combate à precariedade, no respeito pelas pensões, na universalidade dos serviços públicos", destacou, assinalando também a tributação do "imobiliário milionário", a recuperação do salário mínimo nacional e a "paragem de várias privatizações".

Maioria absoluta “tem servido um sistema de apadrinhamento e favores”

Catarina Martins alertou para a "instabilidade da maioria absoluta", que "veio mostrar que o PS nunca se conformou" com a geringonça e "que agora está a reverter algumas das medidas" desse período.

"No país, não há quem não veja agora como a maioria absoluta tem servido um sistema de apadrinhamento, de favores e de autoritarismo contra o Serviço Nacional de Saúde, contra a escola públicas e contra uma política social de habitação."

Disse que a "crise multiplicada dentro do Governo e em choque com a luta popular" é o sinal do "fim de um ciclo político".

"No Bloco não há períodos muito longos de funções como a coordenação"

"E nós gostamos dessa cultura democrática. Mas o que me fez decidir neste momento foi pensar que é agora que o Bloco deve começar a preparação da mudança política que já aí está."

Esta foi a razão apontada por Catarina Martins para a saída da liderança do partido, que enfatizou que "neste tempo novo, estarão os velhos fantasmas, os ódios racistas que são o retrato de uma política mesquinha e vão estar os poderes de sempre, como a oligarquia que se alimenta da especulação financeira e urbanística, e está também a certeza de que é preciso virar à esquerda".

Catarina Martins afirmou acreditar que esta renovação do Bloco de Esquerda vai "multiplicar a energia" do partido e garantiu que "não vai andar por aí": "Eu estou aqui, eu sou daqui. O Bloco é o partido onde eu estou e vou estar em todas as lutas, a luta toda como sempre. É com muita confiança que olho para o futuro do meu partido."

Convenção Nacional do BE marcada para 27 e 28 de maio em Lisboa

A Convenção Nacional do Bloco de Esquerda acontece a 27 e 28 de maio.

A data foi anunciada no início do mês de fevereiro, após a reunião da Mesa Nacional do partido.

"A Mesa Nacional decidiu convocar a Convenção Nacional do Bloco de Esquerda. A XIII Convenção Nacional vai ocorrer nos dias 27 e 28 de maio em Lisboa. Hoje começa o processo convencional", disse Catarina Martins aos jornalistas, na altura.

A última reunião magna do partido decorreu a 22 e 23 de maio de 2021 e, pela primeira vez, foi realizada no distrito do Porto, mais concretamente em Matosinhos.