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Caso Galamba: “Continua sem se explicar o que o SIS fez neste caso”

Ricardo Costa analisa os contornos da polémica que envolve o ministro das Infraestruturas: considera que se trata de uma crise "autoinfligida" e lembra que, após as declarações de Marcelo, o primeiro-ministro fica “numa posição muito difícil” para manter Galamba no Governo.

João Galamba
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A demissão do adjunto do ministro das Infraestruturas provocou uma nova crise no Governo, com contornos caóticos. Em causa está um computador portátil, levado pelo ex-adjunto Frederico Pinheiro, que terá sido recuperado pelo Sistema de Informações e Segurança (SIS). Para Ricardo Costa, esta crise “autoinfligida” ainda tem muito por explicar.

“Continua sem se explicar o que o SIS fez neste caso”, afirma o diretor de informação da Impresa na Edição da Manhã da SIC Notícias. “Houve, claramente, um excesso de zelo por parte da chefe de gabinete de João Galamba que, por haver documentos secretos [no computador], criou uma situação altamente radical - que não era.”

Ricardo Costa lembra que os computadores do Estado têm protocolos diferentes dos computadores de um utilizador comum e, quando está em causa a segurança do país, estes podem ser “desligados à distância pelo Centro de Gestão da Rede Informática do Governo (CEGER)”.

“Bastava ter avisado o CEGER e era bloqueado”, afirma o jornalista. “Aliás, alguma coisa aconteceu porque quando Frederico Pinheiro chega a casa e vai abrir o computador, não consegue entrar no computador porque o seu utilizador tinha sido bloqueado, bem como o seu telemóvel.”

No entanto, não foi só isso que aconteceu. Os serviços secretos foram até casa do ex-adjunto de Galamba para recuperar o portátil, tendo depois entregado o aparelho à Polícia Judiciária (PJ).

“Quem telefonou a Frederico Pinheiro a dizer que o computador tem informações sensíveis, quem combinou a entrega e foi buscar o computador a casa de Frederico Pinheiro foi o SIS. Depois o SIS entregou o computador à PJ porque o SIS não sabe o que lhe fazer, porque não é da sua competência. É a PJ que fica com o computador – continuará na posse da PJ desde sexta-feira – para perceber o que ali tem.”

A atuação do SIS “continua sem uma única explicação”, acrescenta Ricardo Costa, sublinhando que toda esta situação constitui “uma vergonha para o Governo”.

“É absolutamente bizarro como é que a demissão de um adjunto se transforma numa cena de pancadaria, numa situação de polícia, numa situação de serviços secretos e depois num caos do Governo”, afirma.

A “indicação” de Marcelo coloca Costa “numa posição muito difícil”

Marcelo Rebelo de Sousa já terá transmitido a António Costa, por telefone, que João Galamba não tem condições para continuar no Governo. Esta posição do Presidente da República pode não representar uma demissão direta do ministro, mas deixa o primeiro-ministro “numa posição muito difícil”.

“Se um Presidente da República diz ‘esta pessoa não pode continuar no Governo’ é muito difícil a um primeiro-ministro mantê-la no Governo. Porque, a partir desse momento, há uma guerra aberta. O primeiro-ministro não está obrigado a demiti-lo, mas fica numa posição muito difícil.”

O diretor de informação da SIC considera que o assunto não fica resolvido só com a demissão de João Galamba e lembra que o ministro “arrastou mais três membros o Governo para esta polémica”. Durante a conferência de imprensa de sábado, Galamba disse que telefonou ao secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, que estava acompanhado pelo secretário de Estado da Modernização Administrativa, e depois falou com a ministra da Justiça que “deu as indicações”.

“De repente, há três membros do Governo que são arrastados para esta polémica e colocados em check pelo ministro João Galamba. Ninguém ia fazer a mínima ideia de que tinha havido estes dois telefonemas.”

Ricardo Costa reforça que esta crise “foi autoinfligida” e “aconteceu toda dentro da esfera do Governo”. E, apesar de Galamba ser “muito impulsivo” e “ferve em muito pouca água”, o jornalista sublinha que toda a situação poderia ter sido gerida de outra forma.

“João Galamba sucedeu a Pedro Nuno Santos como ministro. O mínimo que deveria ter era uma calma olímpica a gerir as situações e ponderação. João Galamba é uma pessoa muito inteligente, tecnicamente preparada, mas que sempre foi muito impulsivo e ferve em muito pouca água. Acho que deveria ter percebido que um caso destes não se podia gerir assim. Bastava que não tivesse demitido Frederico Pinheiro ou tivesse um conversa com ele no dia a seguir e tivessem encontrado um ponto de equilíbrio e nada disto teria passado. E perguntamos: porque é que isso não aconteceu?”