O ex-presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, não poupou nas críticas a Marcelo Rebelo de Sousa, a Cavaco Silva e ao Governo. Manifestou-se preocupado com a evolução da situação política de Portugal e com os perigos que a democracia enfrenta.
Num artigo de opinião no Público desta sexta-feira, o antigo presidente do Parlamento admite que o relacionamento entre instituições começou a degradar-se em janeiro do ano passado, depois da maioria absoluta do PS.
Ferro Rodrigues sublinha que, no seu entendimento, o Governo "cometeu vários erros, pôs-se a jeito, como afirmou o primeiro-ministro", sublinhando que a "magistratura da influência entrou em séria crise com a sucessão de teimosias, a substituição das conversas francas e frontais por recados através de jornalistas e comentadores".
Critica também os termos em que muitas vezes acontecem os debates no Parlamento com "impropérios" que desrespeitam aquela que é a casa da Democracia.
Cavaco tentou “fazer as pazes com eleitorado”, mas com “rancor”
Quanto ao discurso de Cavaco Silva no passado sábado, afirma que foi uma tentativa de "fazer as pazes com o seu eleitorado", mas com níveis de "despeito e rancor políticos difíceis de aceitar".
Conselho a Costa: "Não hesite em substituir quem for necessário"
O antigo secretário-geral do PS deixa um apelo a António Costa:
"Não hesite em substituir quem for necessário no Governo, doa a quem doer, mas em tempo útil".
"Precedente muito perigoso"
A Marcelo Rebelo de Sousa, chefe de Estado, deixa mais um recado: não banalize a dissolução do Parlamento que deve ser o último recurso de um presidente da República. Avisa que eleições antecipadas resultariam num aumento da abstenção e no crescimento da extrema-direita.
Para Ferro Rodrigues, o "caminho da banalização deste último recurso presidencial constitui um precedente muito perigoso, até mesmo aventureiro".
"Era o que faltava abrir-se uma crise política com dissolução do Parlamento e eleições antecipadas neste contexto em que, de um lado, estão impasses de governação e decisão que podem e devem ser superados, e, do outro, o regresso das ameaças e falsidades de quem considera que vale tudo em democracia", sublinhou.
De acordo com Ferro Rodrigues, Portugal e os portugueses merecem que as vozes do passado não voltem a ter poder.