A publicação sem consentimento de fotografias e vídeos íntimos na internet está a aumentar. Na rede social Telegram, há grupos com milhares de utilizadores, muitos deles com identificações falsas, onde são partilhadas, sobretudo, imagens de mulheres.
No início de outubro, existia um grupo no Telegram com 120 mil utilizadores. Foi eliminando, mas deu lugar a vários outros. Atualmente, o maior grupo conta com 70 mil participantes.
Os administradores são quase sempre os mesmos. Compartilham fotografias, vídeos, perfis de redes sociais e até informações pessoais, sem consentimento.
Os canais estão organizados por categorias, como se de um arquivo se tratasse, onde vão sendo acrescentadas informações e conteúdos por elementos da comunidade.
“Estão a estragar a vida a alguém”
Núria Silva viu a sua intimidade exposta na Internet. Os primeiros sinais foram os pedidos para seguir e as mensagens estranhas na sua página de Instagram. O alerta chegou por parte de um amigo.
“Começaram a criar páginas de sites pornográficos com o meu nome”, conta a jovem.
Não se deixou vencer pelo medo e apresentou queixa. Um ano depois, o caso foi encerrado. Foram identificadas quatro pessoas, que tiveram de pagar uma multa. No entanto, os vídeos nunca foram retirados.
“Estão a estragar a vida a alguém e nem sequer têm essa noção. O anonimato traz-lhes impunidade. O Telegram não é verificado, as mensagens que lá passam não são verificadas, inclusive não há forma de denunciar”, lamenta Núria Silva.
Telegram não permite identificar autores
É difícil descobrir quem está por trás destes grupos. Os utilizadores do Telegram não são obrigados a usar a identidade real e, em muitos casos, recorrem a números de telemóveis falsos. A forma de entrar, pela primeira vez, nestes canais varia.
“Em alguns grupos dá para entrar gratuitamente, há alguns grupos em que tem de se pagar para entrar, há alguns grupos em que tem de se comprovar que se é um homem”, expõe Inês Marinho, fundadora da associação Não Partilhes, que apoia vítimas de violência sexual baseada em imagens.
Os comportamentos em causa são crime (gravação ilícita ou devassapor meios de difusão pública, o que é punido com pena de prisão até cinco anos) – mas, à luz da lei atual, é apenas considerado crime de natureza pública se resultar na morte ou no suicídio da vítima.
As vítimas deste tipo de crimes podem pedir ajuda através de associações como a Não Partilhes e a Linha Internet Segura da APAV, que denunciam e combatem casos desta natureza.