Os diretores das escolas consideram a proposta do Governo para a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento uma escolha "mais política do que pedagógica" para abafar a polémica em torno da identidade de género nas escolas. O novo guião introduz a literacia financeira como tópico obrigatório. Em entrevista na SIC Notícias, António Vale, da Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género, afirma: "Vai contribuir para haver mais bullying nas escolas, para haver mais desinformação, não vemos com bons olhos".
"O Sr. ministro da Educação diz que é um assunto complexo, se é um assunto complexo seria nas escolas que deveria ser tratado, não deveria ser deixado fora dos currículos. Eu compreendo perfeitamente que os professores não estão preparados, mas esse é um trabalho que nós temos feito. Nós, como associação, temos ido às escolas e temos dado formação pessoal tanto a professores como a auxiliares, como também fazemos gestões de esclarecimentos para alunos e de carregados de educação. É um assunto que vai deixar de ser tratado, vai contribuir para haver mais bullying nas escolas, para haver mais desinformação, não vemos com bons olhos", refere António Vale.
Tal como tal como a Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), a Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género (AMPLOS) considera que as alterações propostas pelo Governo são uma maneira de abafar aqui disciplina que tem sido muito polémica.
"As questões polémicas são tratadas com informação, não são tratadas escondendo e pondo debaixo do tapete. Ou seja, o que nós achamos é que é um assunto desconfortável para este Governo, como poderá ser para outros, mas por ser desagradável não deve deixar de ser tratado, porque é uma realidade. Vivemos numa sociedade em que existe diversidade e ela não deve ser esquecida", considera.
Sobre a possibilidade de ser também uma forma de ceder à vontade de alguns pais que viam com desconforto estas aulas sobre sexualidade, António Vale sublinha:
"Parece-nos que sim, que é uma cedência que é feita, só que não compreendemos porque existem famílias apoiantes e famílias não apoiantes. Existem jovens em que em casa podem ter formação, existem jovens que em casa não têm formação e muitas vezes são agredidos num ambiente de casa. A escola seria o ambiente ideal para poder ser um lugar seguro para essas pessoas. Assim não vai ser, por isso não estamos a contribuir para ter uma sociedade melhor".