Humor à primeira vista

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Luana do Bem: “Fazer stand-up não é confortável, mas é o que me traz mais conforto na vida. Quero ser sempre a melhor, que se riam sempre”

Recorde a entrevista de Luana do Bem, em novembro de 2022, ao Humor À Primeira Vista. Para a humorista a comédia começou num discurso de casamento. Na procura de fazer rir e emocionar na dose certa, descobriu que tinha muito mais jeito para provocar gargalhadas do que lágrimas

Gostaste mais deste processo de construir uma série ou do que já estás mais habituada a fazer [stand-up comedy]?
É muito diferente. Stand-up eu adoro. Fazer stand-up não é confortável, mas é o que me traz mais conforto na vida. Nada na vida me diverte tanto como estar a fazer aquilo. É super libertador. Toda a gente quer pertencer a alguma cena. Eu sinto que em stand-up as pessoas fazem-me pertencer. As pessoas estão ali comigo e fazem-me sentir OK. Às vezes corre mal, mas quando isso acontece só quero voltar para casa para ver o que é que correu mal. Eu gravo todas as minhas atuações, ainda hoje.

Fazes sempre esse trabalho assim que chegas a casa?
Faço, a não ser que tenha corrido mesmo muito mal, ou mesmo muito bem. Adoro mesmo pensar em “stand-up” e em coisas que podem resultar no palco. Às vezes basta trocares uma palavra: tenho uma piada que não batia nunca e mudei a rapidez com que a faço, dizia lento e agora digo rápido.

Lidas bem quando não corre bem?
Não lido muito bem. É como perder um jogo, é como jogar à bola. Estive a treinar, cheguei lá, perdi o jogo. Tenho de treinar mais. Irrita-me um bocado, como se fosse culpa de alguém que não minha. Mas a malta diz: “É normal, é noite de teste”. Eu percebo, mas quero ser sempre boa. Quero ser sempre a melhor, não me interessa se é texto novo ou texto antigo. Quero que as pessoas se riam sempre. Então se corre mal fico chateada e tenho como objetivo fazer novamente o mais depressa possível. Porque parece que ganho medo. Então se me corre mal na quinta-feira, gosto de na sexta-feira fazer outra vez para ver o que consigo melhorar.

O “Nanette”, da Hannah Gadsby, foi um espetáculo que marcou-te imenso. Na altura houve alguma discussão sobre se era mesmo “stand-up” e não necessariamente se era um bom espetáculo e acho que se perdeu um bocado nessa discussão. Também concordas?
Quando surgiu nem sabia bem o que era “stand-up” ou não. Nem percebia bem essa discussão. O que sei é que vi aquilo, ia fazer “stand-up” em breve, e adiei durante bastante tempo. Porque quando vi aquilo pensei: “Eu não tenho nada para dizer.” Não há nada que possa dizer, porque tudo o que possa fazer vai ficar aquém. Como é óbvio, olha a moral. Só que aquilo não mudou a forma como eu vim a fazer “stand-up”. Aquilo atrasou o eu começar a fazer “stand-up”, porque depois disso demorei imenso tempo a perceber que não tens de ter uma moral para fazer “stand-up”. Porque quando vi aquilo, como tinha tão pouco conhecimento em relação à comédia, pensei que se não tinha uma mensagem para passar não podia fazer isto. Mas tu podes fazer comédia sem estar a passar uma mensagem. Só a fazer as pessoas rir. Não tenho nenhuma opinião sobre se o que ela fez é “stand-up” ou não. Eu ri-me, e de repente levei um estalo, e senti-me séria a olhar para a televisão. Aquilo mexeu comigo, não te sei explicar. Não sei se é uma questão de identificação.

Gustavo Carvalho faz perguntas sobre comédia. O convidado responde. Sorriem… é humor à primeira vista. Oiça aqui mais episódios:

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