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“Ao dizer que estará sempre do lado de Israel, Kamala não sossegou aquela minoria jovem do partido que questiona este apoio entusiástico”

Foram quatro dias de festa para os democratas, com discursos, intervenções e surpresas na arena do United Center, em Chicago. Kamala Harris e Tim Walz aceitaram oficialmente as suas nomeações, mas a convenção serviu para muito mais do que isso. Oiça aqui o episódio do podcast O Mundo A Seus Pés com Nuno Gouveia, especialista em política norte-americana

Durante quatro dias, estiveram reunidos em Chicago nomes fortes do partido democrata, personalidades e apoiantes. Habitualmente, a convenção serve para designar a partir de uma votação os nomeados para presidente e vice-presidente do partido. No entanto, desta vez, tanto Kamala Harris como Tim Walz já partiram para o evento com as nomeações certificadas pelo Comité Nacional Democrata, pelo que a convenção teve outro propósito: mostrar que o partido está unido e entusiasmado.

Várias figuras políticas importantes — incluindo o Presidente cessante Joe Biden, os ex-Presidentes Barack Obama e Bill Clinton, e a antiga secretária de Estado Hillary Clinton — participaram na convenção. A ex-primeira-dama Michelle Obama e a personalidade televisiva Oprah Winfrey também protagonizaram momentos marcantes. Mas houve outros.

“Na última noite, um dos discursos mais fortes foi o do ex-congressista republicano de Illinois, Adam Kinzinger, que transformou-se numa espécie de líder dos republicanos para Kamala Harris”, afirma o convidado deste episódio, Nuno Gouveia, especialista em política internacional, com foco na política norte-americana. “Ajudou no apelo ao voto junto do eleitorado que tradicionalmente não vota no partido democrata mas, como não gosta de Trump, está mais aberto”.

Harris encerrou a convenção democrata de Chicago na quinta-feira com um discurso que durou cerca de 40 minutos. A candidata presidencial navegou entre vários assuntos, desde a sua história de vida a Donald Trump, não se esquecendo de um dos temas mais sensíveis nestas eleições: a guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza. A democrata assegurou que “agora é o momento para conseguir um acordo para libertar os reféns e um cessar-fogo”, e lamentou que “tantas vidas inocentes se tenham perdido”.

Estas declarações terão sido suficientes para amenizar as críticas os protestos que têm havido em torno do apoio dos Estados Unidos a Israel? Nuno Gouveia responde: “Esta é uma questão complicada para o partido democrata, sabemos que, historicamente, sempre tiveram relações muito próximas com Israel. Por outro lado, há uma geração mais nova dentro do partido que questiona este apoio tão entusiástico. Ao dizer que estará sempre do lado de Israel, Kamala não sossegou esta minoria”.

Apesar de terem sido abordados os temas centrais da campanha de Harris e Walz — nomeadamente acesso ao aborto, imigração, inflação, segurança —, esta convenção “não foi programática”. “O que vimos foi, sobretudo, a visão que o partido democrata tem para o país: uma visão otimista, do excecionalismo americano e de contraste com o partido republicano”, analisa o especialista em política norte-americana. No geral, “foi uma convenção destinada a convencer alguns segmentos de eleitorado indecisos e foi sobretudo uma convenção para mobilizar todo o o partido democrata”, resume.

Este episódio foi conduzido pela jornalista Mara Tribuna e contou com a sonoplastia de Salomé Rita. O Mundo a Seus Pés é o podcast semanal da editoria Internacional do Expresso. A condução do debate é rotativa entre os jornalistas Ana França, Hélder Gomes, Mara Tribuna e Pedro Cordeiro. Subscreva e ouça mais episódios.

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