Em 2021 são já poucos os cantos do mundo que podem dizer que não sentem as consequências das alterações climáticas. Dos violentos fogos na Califórnia e na Austrália, ao degelo no Ártico e na Antártica, às inundações sem precedentes na Europa e na China, a verdade é inegável.
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A mudança climática já está a afetar a maioria da população mundial
Os efeitos das alterações climáticas já têm impacto sobre 85% da população mundial, revelou uma análise feita por uma equipa de investigadores do Instituto Mercator a cerca de 100 mil estudos publicados entre 1951 e 2018.
"Temos provas esmagadoras de que as alterações climáticas afetam todos os continentes, todos os sistemas", afirma o autor principal do estudo, Max Callaghan.
Max Callaghan e os colegas do Mercator Research Institute, com sede em Berlim, fizeram um mapa do globo e dos impactos das alterações climáticas. Concluíram que 80% da Terra, onde reside 85% da população mundial, é afetada nos estudos que prevêem mudanças de temperatura e precipitação associadas ao aquecimento global.
Das inundações e erosão costeira na Libéria à seca em Madagáscar: como as alterações climáticas estão a afetar África.
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A subida dos mares continuará durante séculos
Mesmo que a humanidade consiga limitar o aquecimento a 1,5°C em comparação com a era pré-industrial, o nível do mar vai subir durante séculos, inundando cidades atualmente habitadas por 500 milhões de pessoas, revela um estudo publicado na revista Environmental Research Letters.
Se o planeta aquecer meio grau a mais (2ºC acima do valor antes do século XIX), mais 200 milhões de pessoas a viver em cidades serão regularmente afetadas por inundações e ficarão mais vulneráveis durante as tempestades.
A Ásia será a mais duramente atingida, tem 9 das 10 megalópoles do mundo em risco.
Cheias no centro da China em julho de 2021
A maioria das estimativas sobre o aumento do nível do mar e a ameaça que representa para as cidades costeiras vão até ao fim do século XXI e estimam entre uma subida de meio metro até menos de um metro.
Mas o fenómeno continuará além de 2100 com o aquecimento das águas e com o degelo, independentemente da velocidade de redução das emissões de gases com efeito de estufa.
"Cerca de 5% da população mundial vive atualmente em terras que estão abaixo do nível que será alcançado na maré alta [no futuro] devido ao dióxido de carbono já acumulado na atmosfera pela atividade humana", disse a AFP o investigador principal da organização independente de jornalistas e cientistas Climate Central.
A concentração atual de CO2 é 50% superior a 1800 e a temperatura média à superfície da Terra aumentou 1,1°C.
É o suficiente para aumentar o nível do mar em quase dois metros, quer demore dois ou dez séculos.
Se for alcançado o aumento de temperatura de 1,5ºC, como meta estabelecida no Acordo de Paris, a longo prazo o nível do mar aumentará três metros, revela este estudo.
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Os glaciares estão a derreter
Os glaciares suíços perderam 1% de seu volume em 2021, apesar da forte queda de neve e de um verão frio, revelou a Academia Suíça de Ciências em outubro.
“Embora em 2021 haja uma menor perda de gelo desde 2013, não há desaceleração à vista para o degelo dos glaciares” em período de alterações climáticas, segundo os especialistas da rede que faz a monitorização dos glaciares.
Apesar de o clima de 2021 ter dado uma "trégua", "infelizmente, em tempos de mudança climática, mesmo um ano 'bom' não é suficiente para os glaciares”, sublinham. A perda de volume "continuou, embora menos rapidamente, apesar da forte queda de neve no inverno e de um verão relativamente frio e instável".
Mas "o degelo foi considerável no final de setembro e cerca de 400 milhões de toneladas de gelo foram perdidas em toda a Suíça nos últimos 12 meses, ou quase 1% do volume restante de gelo".
Os 22 glaciares monitorizados pela rede suíça GLAMOS "documentam a perda de gelo" e nenhum ganho em nenhum deles.
As barreiras de gelo da Antártica, uma extensão das glaciares no oceano, estão a ficar enfraquecidas pelo aquecimento global. Se cederem, enormes massas de gelo transformam-se em água, elevando o nível do mar em vários metros.
No Ártico, o "permafrost", o solo permanentemente gelado, descongela. E poderá libertar na atmosfera milhares de milhões de toneladas de CO2 que aí estão armazenados.
Consequência do aquecimento global na Gronelândia
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O aquecimento global vai acentuar as consequências das erupções vulcânicas
"As erupções terão efeitos maiores à medida que o clima continua a aquecer", segundo um estudo da Universidade de Cambridge e da Agência Meteorológica Britânica.
As nuvens de cinzas e gás emitidas por grandes erupções vulcânicas vão subir cada vez mais na atmosfera e espalhar-se mais rapidamente pelo planeta.
O efeito combinado destes dois fenómenos impedirá ainda mais a luz solar de atingir a superfície da Terra, o que "ampliará enormemente os efeitos do arrefecimento temporário" que ocorre após uma erupção, um aumento na ordem de 15%.
Por outro lado, nas erupções menos fortes, o aquecimento global reduzirá em 75% os efeitos do arrefecimento temporário.
A fusão das calotas polares também deve "aumentar a frequência e o tamanho das erupções vulcânicas em lugares como a Islândia".
Vulcão Cumbre Vieja, La Palma, entrou em erupção em setembro de 2021
O que acontece num mundo com +1,5ºC
O acordo sobre o clima alcançado em 2015, e assinado pela quase totalidade dos países do mundo, visa limitar o aquecimento global abaixo dos 2°C e se possível abaixo de 1,5°C em relação à era pré-industrial. Esse meio grau centígrado de diferença pode mudar tudo.
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Links úteis
- Cimeira do Clima COP26 em Glasgow de 31 de outubro a 12 de novembro
- Acordo de Paris
- Relatório IPCC
- Programa da ONU para o Ambiente - UNEP
- Agência Internacional de Energia - IEA
- Orgnaização Meteorológica Internacional - WMO