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Nobel da Paz para Ales Bialiatski da Bielorrússia e duas organizações de direitos humanos, ucraniana e russa

Comité Nobel apela à libertação do ativista bielorrusso.

Ales Bialiatski
Ales Bialiatski
TT NEWS AGENCY

O Prémio Nobel da Paz foi hoje atribuído ao ativista Ales Bialiatski da Bielorrússia e duas organizações de direitos humanos, a ucraniana Centro para Liberdades Civis e a russa Memorial, anunciou a presidente do Instituto Norueguês Nobel, Berit Reiss-Andersen, em Oslo. Ao anunciar o prémio, a presidente apelou à Bielorrússia a libertação do ativista.

"O Comité Nobel da Noruega deseja homenagear três destacados defensores dos direitos humanos, democracia e da coexistência pacífica nos três países vizinhos: Bielorrússia, Rússia e Ucrânia", declarou Berit Reiss-Andersen.

“Há muitos anos que promovem o direito de criticar o poder e proteger os direitos fundamentais dos cidadãos. Têm feito um esforço notável para documentar crimes de guerra, abusos dos direitos humanos e abuso de poder. Juntos, demonstram o significado da sociedade civil para a paz e a democracia”, acrescentou.

Apelo à libertação do ativista bielorrusso

"A nossa mensagem é pedir às autoridades da Bielorrússia que libertem o Sr. Beliatski e esperamos que isso aconteça e que ele venha a Oslo para receber o prémio", disse Berit Reiss-Andersen. "Mas há milhares de presos políticos na Bielorrússia e temo o meu desejo não seja muito realista."



Os laureados são provenientes de três países em foco devido à guerra na Ucrânia, iniciada pela Rússia em 24 de fevereiro deste ano, com o apoio da Bielorrússia, um país aliado de Moscovo.

Ales Bialiatski, 60 anos, atualmente preso na Bielorrússia, fundou a organização Viasna (Primavera) em 1996, para ajudar presos políticos e as suas famílias, na sequência da repressão do regime do Presidente Alexander Lukashenko.

A organização russa Memorial foi criada em 1987, para investigar e registar crimes cometidos pelo regime soviético, mas tem denunciado violações de direitos humanos na Rússia.

A Memorial foi encerrada por um tribunal russo no início deste ano.

O Centro para Liberdades Civis foi criado em Kiev, em 2007, para fazer avançar os direitos humanos e a democracia na Ucrânia.

“Após a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, o Centro para Liberdades Civis empenhou-se em identificar e documentar crimes de guerra russos contra a população ucraniana. O centro está desempenhando no papel pioneiro de responsabilização dos culpados pelos seus crimes”, diz o Comité Nobel.

Temporada Nobel 2022

Este é o quinto dos seis prémios Nobel a ser anunciado este ano.

Na segunda-feira foi entregue o da Medicina ao sueco Svante Pääbo, no dia seguinte o Nobel da Física foi atribuído a Alain Aspect, John F. Clauser e Anton Zeilinger.

Na quarta-feira, o galardão da Química foi para Carolyn Bertozzi, Morten Meldal e Barry Sharpless e na quinta-feira, foi entregue o Nobel da Literatura à escritora francesa Annie Ernaux.

O último anúncio será feito no dia 10 de outubro com o vencedor do Nobel da Economia.

A cerimónia de entrega do Nobel da Paz realiza-se a 10 de dezembro (no dia da morte de Alfred Nobel) em Oslo, na Noruega, onde os laureados recebem o prémio, que consiste numa medalha e num diploma, juntamente com um documento que confirma o montante monetário do galardão, que este ano é de 10 milhões de coroas suecas (cerca de 919 mil euros, no câmbio atual) a dividir pelas várias categorias.

Lista de todos os galardoados com o Nobel da Paz

2022 - Ativista Ales Bialiatski, da Bielorrússia, e organizações Memorial, da Rússia, e Centro de Liberdades Civis, da Ucrânia.

2021 - Jornalistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitry Muratov, da Rússia

2020 - Programa Alimentar Mundial (PAM)

2019 – Abiy Ahmed Ali (Etiópia)

2018 – Denis Mukwege (República Democrática do Congo) e Nadia Murad (Iraque)

2017 - Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN)

2016 - Juan Manuel Santos (Colômbia)

2015 – Quarteto para o Diálogo Nacional na Tunísia

2014 – Malala Yousafzai (Paquistão) e Kailash Satyarthi (Índia)

2013 – Organização para a Interdição das Armas Químicas (OIAC)

2012 – União Europeia (UE)

2011 – Ellen Johnson Sirleaf e Leymah Gbowee (Libéria) e Tawakkol Karman (Iémen)

2010 – Liu Xiaobo (China)

2009 – Barack Obama (Estados Unidos)

2008 – Martti Ahtisaari (Finlândia)

2007 – Al Gore (Estados Unidos) e o painel das Nações Unidos sobre o clima (Grupo Intergovernamental de Especialistas em Evolução do Clima, GIEC)

2006 – Muhammad Yunus (Bangladesh)

2005 – Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) e o seu diretor Mohamed ElBaradei (Egito)

2004 – Wangari Muta Maathai (Nigéria)

2003 – Shirin Ebadi (Irão)

2002 – Jimmy Carter (Estados Unidos)

2001 – Organização das Nações Unidos (ONU) e o seu secretário-geral Kofi Annan (Gana)

2000 – Kim Dae-Jung (Coreia do Sul)

1999 – Médicos Sem Fronteiras (organização não-governamental fundada em França)

1998 – John Humes e David Trimble (Reino Unido)

1997 – Campanha Internacional para a Interdição das Minas Antipessoais e a sua coordenadora Jody Williams (Estados Unidos)

1996 – Carlos Ximenes Belo e José Ramos-Horta (Timor-Leste)

1995 – Movimento antinuclear Pugwash (fundado no Canadá) e Joseph Rotblat (Reino Unido)

1994 – Yitzhak Rabin, Shimon Peres (Israel) e Yasser Arafat (OLP)

1993 – Nelson Mandela e Frederik de Klerk (África do Sul)

1992 – Rigoberta Menchu (Guatemala)

1991 – Aung San Suu Kyi (Myanmar, antiga Birmânia)

1990 – Mikhail Gorbatchev (URSS)

1989 – Dalai Lama (Tibete)

1988 – Forças de Manutenção da Paz das Nações Unidas

1987 – Oscar Arias Sanchez (Costa Rica)

1986 – Elie Wiesel (Estados Unidos)

1985 – Médicos Internacionais para a Prevenção da Guerra Nuclear (fundada nos Estados Unidos)

1984 – Desmond Tutu (África do Sul)

1983 – Lech Walesa (Polónia)

1982 – Alva Myrdal (Suécia) e Alfonso Garcia Robles (México)

1981 – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR)

1980 – Adolfo Perez Esquivel (Argentina)

1979 – Madre Teresa (Albânia/Índia)

1978 – Anwar al-Sadat (Egito) e Menahem Begin (Israel)

1977 – Amnistia Internacional (fundada no Reino Unido)

1976 – Betty Williams e Mairead Corrigan (Reino Unido)

1975 – Andrei Sakharov (URSS)

1974 – Sean MacBride (Irlanda) e Eisaku Sato (Japão)

1973 – Henry Kissinger (Estados Unidos) e Le Duc Tho (Vietname, que recusou)

1972 – Não atribuído

1971 – Willy Brandt (Alemanha Ocidental)

1970 – Norman Borlaug (Estados Unidos)

1969 – Organização Internacional do Trabalho (OIT)

1968 – René Cassin (França)

1967 – Não atribuído

1966 – Não atribuído

1965 – Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)

1964 – Martin Luther King Junior (Estados Unidos)

1963 – Comité Internacional da Cruz Vermelha e Liga das Sociedades da Cruz Vermelha

1962 – Linus Carl Pauling (Estados Unidos)

1961 – Dag Hammarskjöld (Suécia)

1960 – Albert Lutuli (África do Sul)

1959 – Philip Noel-Baker (Reino Unido)

1958 – Georges Pire (Bélgica)

1957 – Lester Pearson (Canadá)

1956 – Não atribuído

1955 – Não atribuído

1954 – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados

1953 – George Marshall (Estados Unidos)

1952 – Albert Schweitzer (França)

1951 – Léon Jouhaux (França)

1950 – Ralph Bunche (Estados Unidos)

1949 – John Boyd Orr of Brechin (Reino Unido)

1948 – Não atribuído

1947 – Conselho do Serviço dos Amigos (The Quakers, fundado no Reino Unido), Comité do Serviço dos Amigos Americano (The Quakers, fundado nos Estados Unidos)

1946 – Emily Greene Balch e John Raleigh Mott (Estados Unidos)

1945 – Cordell Hull (Estados Unidos)

1944 – Comité Internacional da Cruz Vermelha

1943 – Não atribuído

1942 – Não atribuído

1941 – Não atribuído

1940 – Não atribuído

1939 – Não atribuído

1938 – Comité Internacional Nansen para os Refugiados

1937 – Cecil of Chelwood (Reino Unido)

1936 – Carlos Saavedra Lamas (Argentina)

1935 – Carl Von Ossietzky (Alemanha)

1934 – Arthur Henderson (Reino Unido)

1933 – Norman Angell (Reino Unido)

1932 – Não atribuído

1931 – Jane Addams e Nicholas Murray Butler (Estados Unidos)

1930 – Nathan Söderblom (Suécia)

1929 – Frank Billings Kellogg (Estados Unidos)

1928 – Não atribuído

1927 – Ferdinand Buisson (França) e Ludwig Quidde (Alemanha)

1926 – Aristide Briand (França) e Gustav Stresemann (Alemanha)

1925 – Sir Austen Chamberlain (Reino Unido) e Charles Gates Dawes (Estados Unidos)

1924 – Não atribuído

1923 – Não atribuído

1922 – Fridtjor Nansen (Noruega)

1921 - Karl Hjalmar Branting (Suécia) e Christian Louis Lange (Noruega)

1920 - Léon Bourgeois (França)

1919 - Thomas Woodrow Wilson (Estados Unidos)

1918 – Não atribuído

1917 – Comité Internacional da Cruz Vermelha

1916 – Não atribuído

1915 – Não atribuído

1914 – Não atribuído

1913 - Henri La Fontaine (Bélgica)

1912 - Elihu Root (Estados Unidos)

1911 - Tobias Michael Carel Asser (Holanda) e Alfred Hermann Fried (Áustria)

1910 – Gabinete Internacional Permanente da Paz

1909 - Auguste Beernaert (Bélgica) e Paul Henri Balluet d'Estournelles de Constant (França)

1908 - Klas Pontus Arnoldson (Suécia) e Fredrik Bajer (Dinamarca)

1907 - Ernesto Teodoro Moneta (Itália) e Louis Renault (França)

1906 - Theodore Roosevelt (Estados Unidos)

1905 - Baronesa Bertha Sophie Felicita von Suttner (Áustria)

1904 – Instituto de Direito Internacional

1903 - William Randal Cremer (Reino Unido)

1902 - Élie Ducommun e Charles-Albert Gobat (Suíça)

1901 - Jean Henri Dunant (Suíça) e Frédéric Passy (França)

Curiosidades sobre os Prémios Nobel

Os prémios Nobel nasceram da vontade do cientista e industrial sueco Alfred Nobel (1833-1896) em legar grande parte de sua fortuna a pessoas que trabalhem para “o benefício da humanidade”.

Um erro na origem dos prémios?

Em 12 de abril de 1888, o irmão mais velho de Alfred Nobel, Ludvig, morreu em Cannes, França. Mas o Le Figaro engana-se e anuncia na primeira página a morte de Alfred: "Um homem que dificilmente pode ser considerado um benfeitor da humanidade morreu ontem em Cannes. O senhor Nobel, inventor da dinamite".

Este obituário prematuro terá atormentado Alfred Nobel e terá sido a razão para a criação dos prémios. Talvez por isso Nobel tenha escrito que os prémios distinguiriam aqueles que trabalharam “em benefício da humanidade”.

Prémio apenas para pessoas vivas

Desde 1974, os estatutos da Fundação Nobel estipulam que um prémio não pode ser concedido postumamente, a menos que a morte ocorra após o anúncio do nome do vencedor.

Até então, apenas duas personalidades falecidas foram recompensadas: o poeta sueco Erik Axel Karlfeldt (literatura em 1931) e o secretário-geral da ONU Dag Hammarskjöld, que foi assassinado (Nobel da Paz em 1961).

Uma vez o Nobel não foi concedido em homenagem a um vencedor falecido. Foi em 1948, após a morte de Gandhi.

Uma fortuna em troca de uma medalha Nobel

Os Prémios Nobel consistem numa soma de dez milhões de coroas por categoria (cerca de 900.000 euros) e uma medalha de ouro de 18 quilates.

Mas o vencedor do Nobel da Paz de 2021, o jornalista russo Dmitry Muratov, conseguiu transformar ouro em fortuna, em benefício das crianças ucranianas. Em junho, a medalha de 196 gramas recebida pelo co-vencedor de 2021 foi vendida por 103,5 milhões de dólares a um filantropo anónimo, valor que foi doado à UNICEF.

Um Nobel pioneiro em 1903 sobre o aquecimento global

O físico e químico sueco Svante Arrhenius recebeu o Nobel da Química em 1903 pela sua "teoria eletrolítica da dissociação".

Mas foi outro trabalho que lhe valeu o estatuto de pioneiro: no final do século XIX, foi o primeiro a teorizar que a combustão de combustíveis fósseis - na época, especialmente o carvão - lançava CO2 para a atmosfera causando o aquecimento do planeta. Segundo os seus cálculos, a duplicação da concentração de dióxido de carbono aqueceria o planeta em 5°C - os modelos modernos preveem de 2,6 a 3,9°C. Longe de suspeitar as quantidades cada vez maiores de combustíveis fósseis que a humanidade viria a consumir, Arrhenius subestimou a velocidade a que esse nível será alcançado e previu que esse aquecimento ocorreria em 3.000 anos.