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Comic Con: cosplay é a arte de ser herói por um dia

Vestem-se das mais diversas personagens: desde o cinema, à anime, dos videojogos às séries de TV. Na Comic Con Portugal, são muitos os que se mascaram como as suas personagens preferidas. A maioria tem o cosplay como um hobby, mas há também quem faça disso uma profissão.

Comic Con: cosplay é a arte de ser herói por um dia
Filipa Traqueia

O fato, os acessórios, a máscara, as lentes, a maquilhagem... Tudo é pensado ao pormenor. O cosplay é uma prática que tem vindo a ganhar seguidores e que, por estes dias, tem transformado o recinto da Comic Con Portugal numa reunião de super-heróis, animes ou personagens de jogos de computador. Há quem prefira ser fiel aos seus ídolos e quem opte por fazer diferentes cosplay todos os anos. Há quem faça os seus fatos de raiz e quem os compre. As possibilidades são imensas, basta ter criatividade.

As grandes asas cor de rosa chamam a atenção. Joana Tavares tem 22 anos e decidiu vestir-se de Flora, uma personagem de animação do universo Winks. O fato foi feito à mão, com a ajuda da mãe e de um amigo, num projeto que começou a ser feito há dois meses.

“Fazer cosplay não é só um hobby, é tornarmo-nos outra pessoa, encararmos uma personagem”, explica a jovem. “É um escape da vida diária.”

Também Rita Ladeira, de 31 anos, sublinha que ao encarnar uma personagem está a libertar uma parte de si que, normalmente, não mostra. “Conseguimos soltar um lado da nossa personalidade que, se calhar, no dia a dia, as pessoas iriam levar um bocadinho a mal”, conta enquanto mostra o martelo de Harley Queen – vilã da DC que é namorada do Joker.

A acompanhar Rita, está uma segunda Harley Queen: Ágata Rodrigues, de 26 anos, tem sido a sua companheira de cosplay há já vários anos. E o grupo de amigos que se reúne na Comic Con tem vindo a aumentar. Conta agora também com Diogo Pereira, de 31, do Porto, e Miguel Ribeiro, de 24 anos, que vem de Trás-os-Montes.

“O cosplay é uma forma fixe conhecermos pessoas novas. Conheces pessoas muito boas, muito porreiras”, conta Rita. E Ágata acrescenta: “Vemo-nos uma vez por ano, mas quando nos vemos é brutal”.

Do outro lado do recinto, um outro grupo faz pose para uma fotografia: estão vestidos de Demon Slayer, uma série de manga japonesa. Carla Regadas, Ernesto Silva e Diogo Lopes, todos de 30 anos, vêm do norte do país para participar em mais uma edição do maior evento de cultura pop do país. Também Catherine Francisco acompanha o grupo, mas o seu cosplay é inspirado na série Boku No Hero Academy.

“Já experimentamos a faceta de vir com e sem cosplay. E adoramos vir de cosplay porque é uma interação muito diferente do normal. Além de que nos divertimos a fazer os cosplay”, explica Carla.

Os fatos que trazem foram feitos em conjunto, mas foi o kimono amarelo e laranja – que Carla exibe – o que mais trabalho deu: “Isto era um retalho amarelo, tive de tingir de laranja e de pintar os triângulos”.

Escolher a personagem certa para fazer cosplay é também parte do processo. Enquanto Carla, Ernesto e Diogo optam por personagens das séries que estão a ver no momento, Rita e Ágata preferem escolher uma personagem com a qual se identificam. Já Sílvia Neves, de 19 anos, quis algo que lhe trouxesse “nostalgia”.

“Decidi vestir-me de Sailor Moon porque ela marcou muito a minha infância. Tem muito empoderamento. E queria lembrar um bocadinho essa nostalgia”, conta enquanto mostra o fato feito por ela, com a ajuda da avó e de uma costureira.

Esta energia que a Navegante da Lua exibe na série é também uma forma de Sílvia encontrar conforto nela própria: “Encontro poder nas personagens que me visto, encontro confiança e levo isso para o meu dia a dia.”

Filipa Traqueia

Diogo Santos, Gonçalo Lopes Silva e Guilherme Zagalo, entre os 20 e os 22 anos, decidiram arriscar este ano: escolheram interpretar personagens femininas de animes. "É a primeira vez [que escolho um cosplay feminino], já era para vir outros anos, mas é a primeira vez este ano", conta Diogo Santos. Ambos os rapazes afirmam considerar o cosplay feminino "mais bonito".

Um hobby que não escolhe idades

Não são apenas os mais novos que se dedicam a esta arte, entre os participantes da Comic Con há cosplayers de todas as idades. Maurício Ramos e Sérgio Oliveira, de 41 e 38 anos respetivamente, são exemplo disso. Enquanto um se apresenta como uma das assassinas do jogo "Hitman: Attack of the Saints", o outro é Sephiroth, uma personagem do Final Fantasy 7.

Para Sérgio, "é uma maneira de expressarmos o que gostamos", enquanto Maurício vê esta prática como uma forma "de descontrair e descomprimir". "Como não sabemos como vai ser o próximo ano, mais vale fazer alguma coisa este ano e ficarmos com a recordação", acrescenta, referindo-se à pandemia de covid-19.

Filipa Traqueia

Fazer do cosplay uma profissão

No meio da cultura pop, é conhecida por Pretzl Cosplay, mas o seu nome verdadeiro é Joyce e tem 34 anos. É uma das cosplayers profissionais que foi convidada para estar presente na edição deste ano da Comic Con Portugal. Entre as várias personagens que apresentou durante o evento, estava uma interpretação própria da versão feminina de Loki – uma personagem da mitologia nórdica que integra, como vilão, o universo do super-heróis da Marvel.

“Comecei [a fazer cosplay] quando estava no liceu. Queria roupas góticas e eram muito caras, por isso comecei a fazê-las eu própria. E comecei a recriar fatos que via nos meus filmes favoritos”, conta à SIC Notícias.

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Além dos fatos que usa como cosplayer, Joyce faz também tutoriais online de costura e artesanato e escreve livros sobre o tema. É desta forma que consegue monetizar o seu gosto por cosplay e se tornar profissional. Há ainda quem faça presenças em festas e eventos, quem venda fotografias nas diversas personagens e quem desenhe e venda cosplays.

JuTsukino optou por outra vertente: cosmaker – uma pessoa que faz cosplays para vender. Gosta de colocar as mãos no tecido e transpor a sua criatividade para os fatos que desenha, cose, produz e vende. "O cosplay dá-me oportunidade para criar qualquer coisa: desde roupas, asas, acessórios, perucas mirabolantes”, conta, referindo que vende estas peças para outras pessoas que queiram também encarnar a personagem.

“Eu sempre gostei de fazer trabalhos manuais desde muito pequena. Fazia roupas para as bonecas e, uma coisa levou a outra, acabei por fazer roupas para a boneca gigante”, diz apontando para ela própria. “E como gostava da cultura japonesa e de anime, juntei o útil ao agradável e puf, cosplay!”

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Vestir o fato de super-herói para alegrar as pessoas

Entre os participantes da Comic Con, não é o único Homem-Aranha, mas em Olhão, de onde vem, é o vizinho amigável que faz sorrir as pessoas. Prefere esconder a sua identidade – como um verdadeiro super-herói. Inspirado pelos vídeos de pessoas que se vestem de super-heróis e visitam hospitais e centros infantis, este homem-aranha começou também a sair à rua mascarado e já se tornou popular.

“De início reagiam ‘quem é aquele maluco que está vestido de homem aranha com este calor?’. Depois as pessoas começaram-se a habituar e a gostar. E depois começaram a pedir-me para ir a aniversários, a perguntar quando é que ia aparecer”, conta.

SIC

No recinto da Comic Con Portugal, reina o mundo de fantasia, misturam-se os universos e até os vilões se tornam amigos dos heróis para tirar uma foto. O cosplay traz as personagens da ficção à realidade, nem que seja só por um dia.

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