Claro que o trabalho de um cineasta está longe de se definir apenas pelos efeitos (visuais e sonoros) que os seus filmes integram. Seja como for, é um facto que, desde os tempos heróicos do francês Georges Méliès (1861-1938) nos primórdios do mudo, há autores que se definem a partir do modo como aplicam e, mais do que isso, desafiam os poderes das técnicas cinematográficas. O canadiano James Cameron (n. 1954) pode ser um excelente exemplo. O seu nome está na actualidade deste fim de ano cinematográfico já que esta semana as salas de cinema de todo o mundo acolhem o seu "Avatar: O Caminho da Água".
Graças ao streaming, vale a pena regressarmos a um momento marcante da filmografia de Cameron, datado de 1991, não apenas decisivo na evolução daqueles efeitos, mas também na exploração dos conceitos clássicos de aventura: "Terminator 2" — entre nós lançado como "Exterminador Implacável 2" — é, além do mais, um dos títulos mais emblemáticos da carreira de Arnold Schwarzenegger.
Basta contemplarmos as transformações a que o rosto de Schwarzenegger é sujeito para identificarmos um ponto fundamental deste "blockbuster": a representação das personagens "cyborg" implica todo um tratamento especial dos corpos humanos. Apetece dizer: uma reencarnação.
O filme é pontuado por duas figuras que provêm de outro universo, ligado à evolução da Inteligência Artificial: Schwarzenegger é o "Terminator", com Robert Patrick a interpretar o implacável T-1000. Em causa está a personagem de Sarah Connor (Linda Hamilton) e o seu filho John Connor (o estreante Edward Furlong), pólos dramáticos de um conflito entre humanos e máquinas.
Cameron conseguia, assim, retomar a história do primeiro "Terminator", propondo um universo fantástico e envolvente, algures entre o clássico "thriller" e a fábula de ficção científica — as cenas em que o T-1000 se vai transfigurando em "coisas" mais ou menos metalizadas eram, à época, tecnicamente revolucionárias.
As proezas visuais e sonoras de "Terminator 2" acabaram por ser consagradas pela Academia de Hollywood. Nos Óscares referentes a 1991, o filme ganhou nas categorias de efeitos visuais, caracterização, som e montagem sonora — a estatueta dourada de melhor filme do ano foi para "O Silêncio dos Inocentes", de Jonathan Demme.