É bem provável que a maior parte dos espectadores associe de imediato este título à adaptação do romance homónimo de Agatha Christie lançada em 2017, com realização de Kenneth Branagh — e com ele mesmo no papel do génio da investigação criminal que é Hercule Poirot. Pois bem, através do “streaming”, vale a pena recuar mais de quarenta anos e (re)descobrir a versão lançada em 1974, assinada por esse notável artesão americano que foi Sidney Lumet (1924-2011).
Em dezembro de 1935, o lendário Expresso do Oriente tem a sua existência abalada por um assassinato cometido numa das suas carruagens… Os sinais mais ou menos suspeitos são muitos, mas nenhum parece garantir uma pista que conduza, realmente, à descoberta do criminoso…
Acima de tudo, Lumet sabe preservar — e, mais do que isso, transfigurar em subtileza cinematográfica — o labirinto de mistério(s) que Agatha Christie inventou. Mais do que um policial sobre a verdade material dos factos, este é um sofisticado exercício mental de investigação e dedução. Razão de sobra para destacarmos a notável composição de Albert Finney na figura algo bizarra, mas também enigmática, de Poirot.
Finney comanda um elenco que é um verdadeiro luxo artístico, conjugando intérpretes dos dois lados do Atlântico, incluindo Lauren Bacall, Ingrid Bergman, Sean Connery, John Gielgud e Vanessa Redgrave. A interpretação de Ingrid Bergman valeu-lhe o Óscar de melhor actriz secundária — foi a sua terceira estatueta dourada, depois de dois triunfos na categoria de actriz principal, com “Meia Luz” (1944), de George Cukor, e “Anastásia” (1956), de Anatole Litvak.