Não foi fácil o caminho que a indústria teve que percorrer desde o famoso "Relatório Taylor" até aos dias de hoje. A verdade é que por entre tragédias em estádios, fenómenos extremos de hoologanismo e inibição de participação em competições internacionais, tudo mudou quando o governo britânico decidiu que eram necessárias medidas adequadas à realidade dos factos.
Essa preocupação pela imagem do negócio, pela proteção dos seus maiores ativos e pela valorização constante da indústria mantém-se até hoje.
Há poucos dias, foi divulgado um inquérito efetuado a milhares de árbitros, com muito deles a confessaram que temiam pela sua segurança, devido a ameaças que sofreram ou de que foram alvo as suas famílias e/ou negócios.
A esmagadora maioria dos árbitros jovens inquiridos (com menos de 17 anos) confirmaram que já foram alvo de excessos inaceitáveis por parte de treinadores, jogadores e sobretudo adeptos.
Segundo outra iniciativa do género, levada a cabo pela BBC, cerca de 33% dos árbitros auscultados revelou ter sofrido abusos físicos (agressões) no âmbito das suas funções. Ou seja, um em cada três foi alvo de violência durante um jogo de futebol.
São números arrepiantes.
Estas notícias foram debatidas de forma séria durante semanas e, perante a imensidão do problema, foi encontrada uma tentativa de solução, entretanto implementada a nível de teste, com o conhecimento e aval do IFAB:
- Cerca de 100 árbitros passaram a utilizar câmaras corporais nos seus jogos, de forma a avaliar-se o nível de agressividade dos agentes desportivos e espetadores em relação às suas decisões.
As partidas selecionadas referem-se àquelas onde historicamente existem mais problemas, ou seja, as ligas adultas de futebol amador nas regiões de Liverpool, Essex, Middlesbrough e Worcester.
Até ao final da época, a Federação Inglesa (FA) pretende ampliar o uso desta experiência a outros campeonatos regionais e de formação.
A ideia é muito clara: o uso de câmaras corporais pretende evitar que ocorram situações desagradáveis (papel claramente preventivo) mas também registar/gravar as que eventualmente ocorram, dando à FA prova de maus comportamentos, que serão alvo imediato de procedimento disciplinar e judicial.
Depois de avaliado o impacto positivo da ferramenta - para o qual os árbitros receberam formação específica -, a ideia é estender a prática a outras divisões adultas do futebol amador inglês (já em 2023/24).
O fenómeno da violência sobre árbitros, nomeadamente de futebol (recorrente em escalões de base ou amadores) não é exclusivamente nosso.
A diferença, aqui muito visível, é que há quem tenha capacidade de olhar para o problema e encontrar respostas imediatas. Soluções capazes de detetar e corrigir o que está mal.
Esta diferença, entre o lamento constante até ao próximo soco e a introdução de medidas capazes de o evitar (ou sancionar) é, hoje por hoje, a diferença entre pensar e fazer.
Os ingleses, que têm muitos defeitos, fazem. Fazem sempre e fazem bem.
E nós?