Duarte Gomes

Comentador SIC Notícias

Desporto

Frustração é normal, agressão não. Discordar faz parte, ameaçar não

Escrevo esta crónica no voo que me levará de Lisboa ao Funchal para vos dizer que o desporto tem mesmo que ser uma escola de valores.

Frustração é normal, agressão não. Discordar faz parte, ameaçar não
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O regresso a casa, curtíssimo, não permite grande tempo para rever amigos ou familiares. E vamos a ver se permite, ao menos, saborear a bela espetada em pau de louro ou o inigualável bolo do caco com manteiga de alho (já agora, com Brisa maracujá a acompanhar).

Não é por tratar-se de trabalho que a viagem deixa de ser gratificante.

Saí do Funchal quando tinha 16 anos e a maioria das vezes que volto é por questões de natureza profissional. Durante anos para arbitrar jogos dos vários clubes da ilha. Depois disso para participar em formações, colóquios ou lançamento de livros.

De uma ou de outra forma, garanto-vos que é sempre bom e faz sempre bem.

Desta vez terei o prazer de participar em duas ações com destinatários distintos: uma no Estabelecimento Prisional do Funchal (relacionado com ética e incentivo à resiliência); outra numa sessão aberta ao público, sobre os desafios da ética no desporto.

Mérito total para o Núcleo de Árbitros de Futebol da Madeira (NAFRAM), que entendeu que este tipo de iniciativas nunca são demais. Estão certíssimos.

Tenho o privilégio de participar com frequência neste tipo de eventos e sei bem o impacto positivo que têm junto daqueles que assistem. Se em cada dez pessoas, uma refletir sobre o seu comportamento no desporto, o tempo despendido na sessão foi compensado.

Sou dos que acreditam convictamente que o desporto tem mesmo que ser uma escola de valores.

Conheço bem as emoções que lhe estão subjacentes, percebo tudo o que pode estar em causa, respeito o compromisso, talento e entrega dos seus agentes e estou até ciente que a, nível profissional, há mais em jogo do que o mero resultado desportivo, mas é sobretudo por isso que as suas atividades devem preservar a sua essência e matriz original.

E isso só se faz através da sensibilização constante de todos os que atuam, dirigem ou aplaudem o espetáculo. É fundamental recordar permanentemente às pessoas que frustração é normal, agressão não. Que discordar faz parte, ameaçar não.

Este tipo de iniciativas, realizadas por muita gente boa e por várias entidades, um pouco por todo o lado, são cruciais para apelar ao bom senso e à manutenção da racionalidade, ainda que em momentos de maior emotividade.

Fica o repto para que clubes, escolas e institutos superiores, autarquias locais e associações desportivas, continuem a promover ativamente formas de aproximar jogador, técnico, dirigente e adepto a princípios que devem nortear qualquer pessoa de bem: tolerância, empatia, respeito, educação, civismo e desportivismo.

Fairplay sempre.


O ex-árbitro internacional Duarte Gomes é comentador da SIC e tem um espaço de opinião no site da SIC Notícias.