O ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, garantiu que o Governo não quer nacionalizar a Groundforce. E considerou "inaceitável" a proposta do acionista privado da Groundforce de exigir manter o controlo da empresa em caso de execução da penhora da sua participação por incumprimento
"Não está em causa querermos nacionalizar a companhia. Aquilo que nós queremos é criar soluções para que se paguem os salários dos trabalhadores da Groundforce sem estar a criar um problema maior à TAP", afirmou.
Em conferência de imprensa, no Ministério das Infraestruturas e da Habitação, o responsável disse acreditar que o acionista privado vai compreender que tem de dar garantias à TAP para receber os adiantamentos pedidos. Considerou também que a garantia das ações é uma exigência razoável e que não pode deixar a TAP desprotegida.
Acrescentou também que a TAP tem feito "um grande esforço para apoiar a Groundforce", mas chegou um momento em que "não pode continuar a fazer adiantamentos sem ter garantias".
"Ao contrário do que é dito, não temos qualquer intenção ou vontade de nacionalizar a empresa ou empresas", afirmou Pedro Nuno Santos.
"Chantagem e um ultimato inaceitável"
A conferência de imprensa desta quinta-feira surgiu depois do acionista privado, Alfredo Casimiro, ter acusado o Governo de "chantagem e um ultimato inaceitável".
Nesse comunicado, Alfredo Casimiro acusava Pedro Nuno Santos de querer "nacionalizar a Groundforce e entregá-la daqui a uns tempos a outro privado". "Estão a aproveitar-se da pandemia para fazer um roubo, tal como os que ocorreram a 11 de março de 1975", afirmou.
Questionado sobre as declarações de Alfredo Casimiro, o governante desvalorizou o "tom da carta", dizendo entender tendo em conta "a situação de desespero em que está o acionista privado da Groundforce".
"Tenho de dar um desconto à carta que foi tornada pública e faço esse desconto, porque entendo a situação de desespero em que está o acionista privado da Groundforce. O tom da carta não é relevante, o que é relevante é que tenho de fazer bem o meu trabalho - defender a TAP e o dinheiro dos portugueses", declarou
Proposta de Alfredo Casimiro
O ministro das Infraestruturas e da Habitação considerou "inaceitável" a proposta do acionista privado da Groundforce de exigir manter o controlo da empresa em caso de execução da penhora da sua participação por incumprimento.
Explicou que o acionista privado da Groundforce, Alfredo Casimiro, aceitou um penhor das ações relativas à sua participação (50,1%, através da Pasogal) para receber um adiantamento de cerca de dois milhões de euros, mas exigiu - em caso de execução - manter o controlo da empresa de 'handling' (assistência nos aeroportos), em que a TAP detém 49,9% do capital.
"O acionista privado aceita transferir as ações, mas não que se tirem as consequências desta ação, isto é, perante o não pagamento à TAP e a execução da garantia, a TAP passaria a ser maioritária, mas o controlo manter-se-ia do acionista privado, que entretanto já era minoritário. Isto é inaceitável: aumentava a exposição, mas não garantia a proteção da TAP", declarou o governante.
No entanto, Pedro Nuno Santos disse acreditar que ainda seja possível chegar a uma "solução", que passa por o "acionista privado compreender que a TAP tem direito a proteger-se", antes de fazer novos adiantamentos de capital à empresa de que é acionista (49,9%), que já totalizam 12,3 milhões de euros.
A Pasogal, de Alfredo Casimiro, detém 50,1% da Groundforce e a TAP 49,9%.
Negociações recuaram
As negociações sobre o pagamento dos salários em atraso na Groundforce entre o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e o acionista maioritário, Alfredo Casimiro, recuaram.
Na manhã desta quinta-feira, estava praticamente fechado o acordo, mas, ao que a SIC apurou, as negociações recuaram durante a tarde.
Alfredo Casimiro admitiu entregar ações da Groundforce à TAP, mas rejeitou perder o controlo da companhia caso não consiga pagar o empréstimo no futuro. Isto é, entrega as ações, mas sem os respetivos direitos de voto e sem abdicar do cargo de presidentes.