A diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, apelou "ao pleno respeito" pelo direito à educação no Afeganistão, especialmente das raparigas e mulheres, e assegurou que apoiará todos os afegãos para que seja cumprido tal objetivo.
"Nada deve impedir o direito fundamental à educação, especialmente para as raparigas e mulheres. A UNESCO não se poupará a esforços para apoiar todos os afegãos a fim de assegurar o seu direito à educação", afirma Audrey Azoulay, num comunicado emitido na noite de quarta-feira por aquela organização.
Na mesma nota, a UNESCO realça que a "educação é um direito fundamental indispensável para o gozo de outros direitos humanos e para o desenvolvimento do Afeganistão" e sublinha que o "é ainda mais neste momento crítico" para aquele país.
Por isso, Azoulay "apela a que o direito à educação seja garantido sem discriminação", defendendo que os estudantes, professores e outro pessoal educativo "devem ter acesso a ambientes seguros".
As raparigas e as mulheres, em particular, devem continuar a aprender e a ensinar "sem quaisquer restrições", defendeu, salientando que "os progressos significativos feitos no país, particularmente na educação, não devem ser perdidos" e que "a educação deve continuar para raparigas e mulheres", porque "o futuro do Afeganistão depende delas".
No comunicado a UNESCO relembra que, desde 1948 presta assistência técnica para reforçar a educação no Afeganistão e que, através do seu gabinete em Cabul, tem investido na política de educação, particularmente para as raparigas.
Assim, através da maior campanha de alfabetização da história da Organização, "foram alcançados 1,2 milhões de afegãos, incluindo 800.000 mulheres", acrescenta.
Mais recentemente, a UNESCO tem apoiado também os esforços do país para enfrentar a pandemia de covid-19, ajudando o sistema educativo a promover um regresso seguro à escola, especialmente para as raparigas.
Depois de tomarem 30 de 34 capitais provinciais em apenas dez dias, os talibãs entraram em Cabul no domingo, quase sem encontrarem resistência das forças de segurança governamentais, proclamando o fim da guerra e a sua vitória, o que assinalou o seu regresso ao poder no Afeganistão 20 anos após terem sido expulsos pelas forças militares dos Estados Unidos e seus aliados da NATO.
Foi o culminar de uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares estrangeiras, cuja conclusão estava agendada para 31 de agosto.
As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista, que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, considerado o autor moral dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
Depois de terem governado o país de 1996 a 2001, impondo uma interpretação radical da 'sharia' (lei islâmica), teme-se que os extremistas voltem a impor um regime de terror, reduzindo a zero ou quase os direitos fundamentais das mulheres e das raparigas, embora estes tenham já assegurado que a "vida, propriedade e honra" vão ser respeitadas e que as mulheres poderão estudar e trabalhar.
VEJA TAMBÉM:
- Merkel e Biden coordenam operação de evacuação de civis
- EUA rejeitam intervenção política de ex-Presidente Ashraf Ghani
- Cerca de 5 mil pessoas retiradas do Afeganistão nas últimas horas
- Manifestantes voltam a hastear bandeira afegã e os talibã respondem com tiros
- Grupo de mulheres num raro e corajoso protesto em Cabul
- Portugal espera receber refugiados afegãos "tão breve quanto possível"