A grande questão que está a colocar-se em Glasgow, no que à posição dos EUA diz respeito, é: com China e Rússia a primarem pela ausência, vai o Presidente dos Estados Unidos ser capaz de mostrar que vai mesmo ser o líder do combate a esta emergência global?
1. REGRESSO, SIM, MAS COM QUE RESULTADOS?
Se houve rutura clara entre Donald Trump e Joe Biden foi na questão climática.
Ao Dia 1 na Casa Branca, o 46.º Presidente dos EUA assinou o regresso norte-americano ao Acordo de Paris e enviou uma carta ao Secretário-Geral da ONU, António Guterres, a pedir desculpa pela atitude do seu antecessor, no modo e nas alegações da vergonhosa saída americana durante o consulado Trump. Mas, também por isso, Biden não pode sair de Glasgow sem ganhos significativos, para lá da retórica.
Uma coisa, para já, é certa: Biden destacou uma delegação alargada e cheia de “primeiras linhas” -- 13 titulares de pasta ou membros de topo da sua Administração estão credenciados para o evento (para lá de meia centena de congressistas), número recorde entre as representações governamentais de qualquer país até agora.
Além do seu representante especial para o tema das alterações climáticas, John Kerry (ex-Secretário de Estado na Presidência Obama e ex-candidato presidencial em 2004, uma escolha de grande força política a quem o Presidente Biden deu credenciais permanentes para representar a administração norte-americana neste tema fundamental), e da sua conselheira sénior para o clima, Gina McCarthy, Biden também indicou as presenças do Secretário de Estado, Tony Blinken; Transportes, Pete Buttigieg; e ainda Energia Agência de Proteção Ambiental, Agricultura, Administração Interna, Tesouro, Ajuda Americana Externa, Administração Oceanos e Atmosférica, Gabinete da Casa Branca para as Políticas de Ciência e Tecnologia, Conselheiro Económico Nacional.
Depois do verão mais quente de sempre nos EUA, com eventos extremos como temperaturas recorde próximas dos 50 graus, incêndios violentíssimos na Califórnia, cheias e inundações em vários estados, furacões cada vez mais numerosos e destruidores, conseguirá Biden voltar de Glasgow com rótulo de vencedor?
2. UM PLANO: AJUDAR OS PAÍSES POBRES A ENCARAR O DESAFIO CLIMÁTICO
Joe Biden chegou a Glasgow sem ter conseguido passar no Congresso o seu ambicioso pacote climático (mesmo alguns setores democratas não gostaram da excessiva integração no Plano de Infraestruturas do foco nas energias limpas), mas está na COP26 com objetivos claros: reduzir as emissões de carbono dos EUA para 50 a 52% até 2030 (tendo em conta os níveis de 2005) e atingir emissões zero por 2050.
O Presidente dos EUA tem ainda um novo plano para ajudar os países em desenvolvimento a fazerem melhor adaptação ao desafio climático (programa PREPARE), que poderá providenciar cerca de três mil milhões de dólares/ano até 2024. Mas a ideia precisa de aprovação do Congresso.
Poderá também haver um grande plano para conter o metano – e a novidade que aponta para deter a desflorestação até 2030 -- tendo como chaves países como Brasil, Canadá, Congo ou Indonésia – também teve influência direta do Presidente norte-americano.
Ainda é pouco, mas são bons sinais iniciais. Talvez se possa, daqui a uns dias, concluir que as notícias sobre o fracasso da COP26 tenham sido manifestamente exageradas.
3. TRÊS ALVOS DA VISÃO BIDEN
O Presidente dos EUA pretende anunciar “o maior investimento” de sempre 555 mil milhões de dólares para uma Climate Bill (precisa de aprovação no Congresso, Câmara dos Representantes marcará data para votação em breve).
John Kerry, representante especial do Presidente Biden para o desafio climático, avançou que os EUA pretendem trabalhar com vários países, de modo a que se consigam atingir três alvos: 1) iniciativa de hidrogénio limpo com a Arábia Saudita, para disparar o uso de “clean energies”; 2) uma grande aliança com a Indonésia e outros países com grandes florestas para reduzir o ritmo de desflorestação; uma parceria com a Índia, de modo a acelerar as energias renováveis.
Kerry garante que os EUA chegam a esta COP26 com a garantia de que países que, juntos, representam 65% do total da riqueza mundial estão comprometidas com a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 graus (compromisso saído do G20 realizado no fim de semana em Roma). “Claro que, se temos 65% ‘in’, é porque 35% ainda estão ‘out’.
O desafio é que, em Glasgow, ponhamos esses 35% também ‘in’”, insiste o ex-Secretário de Estado do Obama, a quem Biden deu credenciais permanentes para representar os EUA neste tema fundamental para todos nós.
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