Cimeira do Clima

Opinião

Análise COP26: o relógio está a contar

A Administração Biden assumiu o compromisso de reduzir para pelo menos metade as emissões poluentes até ao fim desta década. Mas os desafios são tão grandes que olhar para os detalhes do que tem que ser feito chega a assustar.

Análise COP26: o relógio está a contar
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E esse é outro problema da emergência climática: gerir a comunicação entre os alertas urgentes e o risco de reações defensivas que tendam para a negação do problema. Entretanto, o tempo passa -- e a margem para resolver o dilema vai estreitando. O relógio está a contar.

1. MAIS TRÂNSITO, MAIS DOENÇAS, MAIS CHEIAS

Na sequência de ordem executiva feita nos primeiros dias de Joe Biden na Casa Branca, em que aponta o objetivo dos EUA reduzirem para metade as emissões poluentes até 2030, a 7 de outubro a Administração Biden divulgou os Agency Climate Adaptation and Resilience Plans from Across Federal Government. Este vasto conjunto de relatórios feitos por 23 agências federais (em áreas como Agricultura, Defesa, Administração Interna, Educação e Transportes) revela um panorama assustador, mas relativamente previsível, sobre as consequências das alterações climáticas nos mais diversos aspetos da governação.

O retrato traçado antecipa o que será a vida para quem tem hoje menos de 40 anos: mais trânsito, mais doenças, mais cheias, (muito) mais calor, mais secas. O que já fomos sentindo nos últimos anos vai acentuar-se nos próximos: mais eventos climáticos extremos vão obrigar a decisões políticas difíceis.

A Casa Branca resumiu assim as conclusões: “As agências enfrentam uma série de riscos causados pelas mudanças climáticas, incluindo custos crescentes para manter e reparar a infraestrutura danificada de eventos climáticos mais frequentes e extremos, desafios para a eficácia e prontidão do programa e riscos de saúde e segurança para funcionários federais que trabalham fora dos EUA (…) Ao tomar medidas agora para melhor gerenciar e mitigar os riscos climáticos, minimizaremos as interrupções nas operações, ativos e programas federais, ao mesmo tempo em que criaremos condições de trabalho mais seguras para os funcionários”.

2. MUDANÇAS DE FUNDO OU CONSEQUÊNCIAS DIFÍCEIS DE IMAGINAR

O alcance do que tem que ser feito é brutal: os planos que estes relatórios propõem abrangem medidas como a proteção dos trabalhadores de eventos extremos; a criação de cadeias de distribuição mais resistentes a desastres climáticos extremos e mais frequentes; a avaliação dos impactos da má qualidade do e do calor em comunidades de baixo rendimento e minorias; preparação dos edifícios governamentais mais bem preparados para as mudanças climáticas.

3. INTELIGÊNCIA CLIMÁTICA

Três exemplos concretos que estes relatórios nos mostraram. O Departamento de Defesa avisa que a mudança climática representa uma ameaça às operações militares e pode criar novas fontes de conflito em todo o mundo, incluindo conflitos sobre a potencial escassez de água -- o General Lloyd Austin, Secretário da Defesa, chega a advogar a criação de uma “inteligência climática” que apoie o Pentágono no processo de decisão das operações militares.

O Departamento de Transportes escreveu que a mudança climática tornará as construções e as viagens mais difíceis e mais perigosas. Joe Biden já tinha apontado, em agosto, o objetivo de metade dos automóveis nos EUA serem “zero emission” até 2030. O Departamento de Educação revelou que, só na Califórnia, mais de um milhão de alunos foram afetados pelo fecho de escolas devido a incêndios florestais durante o ano letivo de 2018-19 e que, após os furacões Maria e Irma em Porto Rico, os alunos perderam uma média de 78 dias de escola.