Três doentes covid em estado crítico seguiram esta sexta-feira para o Funchal, na Madeira, onde vão ficar internados. Os doentes chegaram a solo madeirense já de noite, num avião C130 da Força Aérea Portuguesa.
O avião aterrou no Aeroporto Internacional da Madeira Cristiano Ronaldo cerca das 20:15 e os doentes foram conduzidos ao hospital em três ambulâncias e encaminhados para a unidade de cuidados intensivos dedicada à covid-19.
A Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo aceitou a ajuda oferecida pelo Governo Regional da Madeira para receber doentes críticos do Serviço Nacional de Saúde do continente. As autoridades falam numa seleção criteriosa.
O avião com os três doentes descolou do aeroporto de Figo Maduro, em Lisboa, por volta das 18:15. Vão ficar no Hospital Dr. Nélio Mendonça, no Funchal, na Madeira.
A transferência, assegurada pelo Ministério da Defesa, foi autorizada pelos familiares dos doentes.
Segundo o Ministério da Saúde, dois destes doentes estavam internados nos cuidados intensivos do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, e o terceiro no Centro Hospitalar Lisboa Ocidental. As ambulâncias com os doentes do Hospital Beatriz Ângelo chegaram à base aérea às 17:05, com escolta policial.

Da seleção ao transporte: como foi feita a transferência de doentes para a Madeira
A viagem aconteceu a bordo do C130 da Força Aérea Portuguesa. Ao que a SIC apurou, o C130 cumpre todas as normas de segurança para o transporte de doentes mais críticos. Os doentes seguiram sedados e entubados durante a viagem, acompanhados por profissionais altamente especializados do INEM, da Força Aérea e da Região Autónoma da Madeira.
Na Edição da Tarde da SIC Notícias, a Tenente-coronel Isabel Sousa, da Força Aérea, médica responsável pela transferência de doentes em estado crítico do continente para a Madeira, garantiu que a equipa da Força Aérea está "muito treinada" para fazer este tipo de missão.
"A transferência de doentes por via aérea é um trabalho nosso, estamos habitados a fazê-lo", disse em entrevista na Edição da Tarde da SIC Notícias, acrescentando que os cuidados tiveram de ser adaptados, uma vez que são doentes com covid-19.
A responsável explicou que o avião C130, que transporta os doentes, tem o que é necessário para esse transporte, como os equipamentos de suporte para os infetados e de proteção individual para a equipa médica e tripulação. Acrescentou ainda que a seleção dos doentes foi feita "de forma criteriosa" para a transferência ser benéfica para eles.
"A coordenação deste tipo de missões é muito completa", disse Isabel Sousa.
Na Edição da Tarde, a Tenente-coronel da Força Aérea explicou que o transporte dos hospitais até à base aérea de Figo Maduro foi feito por equipas no INEM e do Hospital S. Francisco Xavier e que o transporte dos doentes do aeroporto até ao hospital, na Madeira, será da responsabilidade da Proteção Civil da Madeira com equipas especializadas.
A responsável garantiu ainda que a Força Aérea tem capacidade para transportar doentes para o estrangeiro em caso de necessidade.
O Presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos, João Gouveia, disse que a transferência destes três doentes tem como objetivo aliviar a pressão nos hospitais da região de Lisboa e Vale do Tejo.
Na Edição da Tarde da SIC Notícias, explicou que a transferência foi programada e que foram selecionados com base no perfil de risco e no benefício que tinham em manter o internamento.
"O objetivo é que estes doentes não corram nenhum risco", afirmou João Gouveia.

Os doentes em estado crítico, que deverão chegar ao Funchal a partir das 19:00, vão ter acesso ao Hospital Dr. Nélio Mendonça a partir da área destinada a doentes covid, designada covidário.
À SIC, o diretor clínico do Hospital Dr. Nélio Mendonça disse que, para já, as três camas para doentes do continente nos cuidados intensivos são a ajuda possível. No entanto, referiu que o hospital poderá vir a receber mais doentes e fez depender essa ajuda da evolução da pandemia na Madeira.

"Gesto muito significativo de unidade e solidariedade nacional"
O primeiro-ministro, António Costa, disse esta sexta-feira à tarde que telefonou ao presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, a agradecer o apoio no acolhimento de doentes nos cuidados intensivos.
Na mensagem que publicou na rede social Twitter, o primeiro-ministro considerou o gesto "muito significativo do espírito de unidade e solidariedade nacional".
Governo Regional da Madeira oferece ajuda ao continente
O Governo da Madeira mostrou-se disponível, na quarta-feira, para receber do continente infetados com covid-19 que precisem de internamento hospitalar, na sequência da "sobrecarga" existente nos hospitais nacionais.
Em comunicado, o executivo madeirense de coligação PSD/CDS, liderado pelo social-democrata Miguel Albuquerque, diz ter informado o Ministério da Saúde que tem capacidade para apoiar o Serviço Nacional de Saúde.
"O secretário regional de Saúde e Proteção Civil, Pedro Ramos, já estabeleceu o contacto com a ministra da Saúde, Marta Temido, e a operação da transferência dos doentes covid-19 será operacionalizada assim que obtiver resposta positiva por parte do Ministério da Saúde", pode ler-se no documento.
À semalhança da Madeira, o Governo dos Açores também se mostrou disponível para receber doentes do continente nos hospitais da região. O secretário regional da Saúde garante que o arquipélago vai ajudar no que for possível.
Internamentos nos hospitais da Grande Lisboa não abrandam
O número de internamentos por covid-19 voltou a aumentar nas últimas 24 horas. Os hospitais da Grande Lisboa continuam sob uma enorme pressão.
O Centro Hospitalar de Lisboa Central, que agrega os Hospitais de S. José, Curry Cabral, S. Marta, Capuchos, e D. Estefânia, atinge esta sexta-feira as 306 camas ocupadas com doentes covid, sendo que a capacidade total, de momento, é de 308. Nos cuidados intensivos estão 56 pacientes, mais seis do que há 24 horas.
O Diretor do serviço de cirurgia cardiotorácica do Hospital de Santa Marta diz que, se as restrições foram cumpridas, numa semana o número de infetados pode começar a diminuir.
O Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, tem, nesta altura, mais 15 pacientes covid do que há 24 horas. No total, conta com 274 e nos cuidados intensivos estão 26, mais quatro do que na quinta-feira.
O Centro Hospitalar de Lisboa Norte, que junta os hospitais de Santa Maria e Pulido Valente, tem esta sexta-feira 334 pacientes covid, mais 17 do que há 24 horas e 55 estão nos cuidados intensivos. Na urgência continuam mais 50 à espera de vaga para internamento.
O Hospital Amadora-Sintra, que na quinta-feira registava o maior número de infetados e que recorreu a transferências para acomodar todos os doentes covid, regista esta sexta-feira menos 29 infetados internados com o novo coronavírus, com um total de 294. Destes, 31 estão nos cuidados intensivos que, nesta altura, tem apenas disponível mais uma cama.
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