A vacina russa Sputnik V tem uma eficácia de 91,6% contra a covid-19, segundo os resultados da fase 3 dos ensaios clínicos publicados na revista científica The Lancet e validados por especialistas independentes.
““O desenvolvimento da vacina Sputnik V tem sido criticado pela precipitação, pelo facto de ter queimado etapas e pela falta de transparência. Mas os resultados relatados são claros e o princípio científico da vacinação está demonstrado, o que significa que uma vacina adicional pode agora juntar-se à luta para reduzir a incidência da covid-19”, estimam dois especialistas britânicos, os professores Ian Jones e Polly Roy, num comentário anexado ao estudo.
Vacina "segura e eficaz"
Estes primeiros resultados verificados da fase 3 dos ensaios clínicos vêm assim coroborar as afirmações iniciais da Rússia sobre a eficácia da Sputnik V, que foram recebidas com ceticismo pela comunidade científica internacional no outono passado.
Em novembro, o porta-voz do ministro da Saúde assegurava que a vacina, desenvolvida pelo Centro Nacional de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya em Moscovo, tinha uma taxa de eficácia superior a 90% e o Presidente russo garantia também que "todas as vacinas russas contra a Covid-19 são eficazes"
Os resultados preliminares da fase 3 nessa altura deram como certa uma eficácia de 95%. A 14 de dezembro, os resultados finais da fase 3 indicaram uma eficácia de 91,4%.
Com este resultado de 91,6% de eficácia na prevenção da covid-19, a Sputnik V fica ao nível das vacinas mais eficazes e já a serem administradas - da Pfizer/BioNTech - com 95% de eficácia - e da Moderna - com eficácia de 94,5%.
20 mil voluntários tomaram a vacina
Os resultados publicados agora dizem respeito ao ensaio clínico realizado com 20 mil voluntários. Mostram que a Sputnik V reduziu em 91,6% o risco de infeção pelo novo coronavírus SARS-CoV-2.
Os voluntários do ensaio que se realizou entre setembro e novembro receberam todos duas doses da vacina ou de placebo com três semanas de intervalo.
No dia seguinte a cada inoculação foi feito um teste PCR, mas na segunda dose o teste só foi realizado às pessoas que desenvolveram sintomas.
No total, 16 voluntários em 14.900 que receberam as duas doses da vacina testaram positivo à covid-19 (0,1%), contra 62 em 4.900 que receberam o placebo (1,3%).
Os autores sublinham que os testes PCR só foram realizados quando as pessoas declararam ter sintomas de covid-19, razão pela qual a análise da eficácia diz apenas respeito a casos sintomáticos.
"São necessárias mais investigações para determinar a eficácia da vacina em casos assintomáticos bem como sobre a transmissão" da doença, avança a The Lancet.
Eficaz em idosos com mais de 60 anos
Com base em cerca de 2.000 casos de pessoas com mais de 60 anos, o estudo considera que a vacina é eficaz nessa faixa etária.
Os dados parciais mostram ainda que protege contra as formas moderadas a severas da doença.
Vacina com "vírus inofensivo"
A Sputnik V é uma vacina de vetor viral, ou seja, utiliza outros vírus tornados inofensivos para o organismo humano que se adaptam para combater a covid-19.
Trata-se da mesma técnica utilizada pela vacina da AstraZeneca/Oxford, que apresenta uma eficácia de 60%, segundo a Agência Europeia do Medicamento, EMA.
Enquanto a vacina da AstraZeneca se baseia num único adenovírus de chimpanzé, a Sputnik V utiliza dois adenovírus humanos diferentes para cada uma das injeções.
Segundo os seus criadores, a utilização de um adenovírus diferente na segunda dose deverá provocar uma melhor resposta imunitária.
Criadores da vacina Sputnik V e AstraZeneca unem-se para melhorar vacina contra a covid-19
No final de dezembro, Moscovo fez um acordo com e a farmacêutica britânica AstraZeneca. Com vacinas semelhantes em fase final de testes, russos e britânicos acreditam que só ganham em juntar esforços.
Mais de 2,23 milhões de mortos no mundo
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.237.990 mortos resultantes de mais de 103.330.900 de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP esta terça-feira de manhã
Os países mais afetados continuam a ser os Estados Unidos, o México e o Brasil .
Portugal com mais de 12 mil mortes e 726 mil casos
Desde o início da pandemia, Portugal já registou 12.757 mortes e 726.321 casos de infeção pelo vírus SARS-CoV-2, segundo o último balanço de segunda-feira.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Links úteis
- Atualização semanal da execução do Plano Nacional de Vacinação contra a covid-19
- Universidade de Oxford - dados sobre evolução das vacinas contra a covid-19
- Bloomberg - listagem que permite seguir o número de vacinas já administradas no mundo
- Especial sobre o novo coronavírus / Covid-19
- Covid-19 DGS/Ministério da Saúde - mapa dos números
- Covid-19 DGS - relatórios de situação diários
- Linha SNS24
- Direção-Geral da Saúde (DGS)
- Organização Mundial da Saúde (OMS)
- ECDC - Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças
- London School of Hygiene & Tropical Medicine (gráfico que mostra o progresso dos projetos de vacina)