Coronavírus

Desvio de vacinas. “Não é concebível atribuir-se este comportamento a um erro de cálculo ou planeamento"

Vera Lúcia Arreigoso analisa os acontecimentos em torno do plano de vacinação contra a covid-19.

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As irregularidades na administração da vacina contra a covid-19 levaram à demissão de Francisco Ramos, coordenador da task force. Vera Lúcia Arreigoso, jornalista do jornal Expresso, analisa, na Edição da Tarde, como está a decorrer o plano de vacinação em Portugal.

“A ministra fala que o plano aparentemente até está a correr bem, na medida em que o nosso índice de vacinação face à população não está assim tão abaixo daquilo que é o resto da Europa. E podemos dizer até que está dentro da média. Contudo, se nós olharmos de uma forma mais detalhada para a forma como esta inoculação tem sido feita em Portugal, as coisas não estão, de facto, a correr bem”, diz a jornalista.

Vera Lúcia Arreigoso considera que houve falhas na execução do planeamento, nomeadamente situações que não foram acauteladas. Estas lacunas abriram a oportunidade para as situações de irregularidades na inoculação dos portugueses que têm sido denunciadas.

Considera ainda que o ritmo de vacinação não “era o desejável”: por um lado, a responsabilidade é do Governo, pela “maneira como o plano foi desenhado e concretizado no terreno”, por outro, da própria União Europeia que “foi lenta na negociação das vacinas e não foi possível, de alguma forma, acautelar um ritmo mais rápido do fornecimento”.

A jornalista do Expresso lembra que o Governo tem vindo a receber indicações das autoridades de saúde sobre o aumento do número de doses existente em cada frasco e deveria ter acautelado o que fazer quando fossem registadas sobras.

“Não é concebível atribuir-se este comportamento menos devido a um erro de cálculo ou de planeamento. Porque sobrou e não se sabia que ia sobrar? Porque achou-se que se tiravam cinco ou seis doses e tiraram-se menos? Isto não pode ser feito em cima do joelho e quando se chega ao local. Tudo isto tem de estar planeado. Até numa equipa de futebol há jogadores no banco. É impensável como é que isto não foi acautelado”, sublinha.

Em cima de toda a situação, surge agora a demissão de Francisco Ramos, coordenador da Task Force, e sua substituição pelo vice-almirante Henrique Gouveia e Melo. Vera Lúcia Arreigoso considera que este afastamento constitui “uma baixa da liderança, no momento absolutamente crucial” e aponta o dedo ao Governo pela falta de transparência neste processo.

“Não é só mudar o rosto da task force e da pessoa que vai dando informação aos portugueses. É preciso que esse rosto agora venha acompanhado de mudanças concretas e que seja explicadas a toda a população”, afirma ainda a jornalista.