Os casos de covid-19 na região de Lisboa e Vale do Tejo continuam a aumentar. Dos 625 novos infetados das últimas 24 horas, mais de 400 são na capital. Há 170 surtos ativos na Grande Lisboa, a grande maioria terá resultado de convívios familiares.
Na Edição da Noite da SIC Notícias, Carla Araújo, médica internista do Hospital Beatriz Ângelo e elemento do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos, Pedro Simas, virologista do Instituto de Medicina Molécula, e Bernardo Gomes, médico de saúde pública, analisam a avaliação da pandemia.
Carla Araújo explica que o aumento de casos obrigou a que as enfermarias covid-19 fossem reabertas, obrigado a um realocar de recursos humanos.
“Nestes momentos são os mais jovens, as faixas etárias dos 30, 40, 50. Efetivamente aqueles idosos mais frágeis já estão praticamente todos vacinados”, explica a médica internista.
A razão que leva a um aumento de internamentos de jovem tem a ver com a vacinação e com o desconfinamento. “Focando na Grande Lisboa, onde a população é jovem, se mobiliza, assistimos a um progressivo desleixo das medidas de proteção”, acrescenta.
Pedro Simas sublinha que “os grupos de risco são iguais desde o início da pandemia” e que “o vírus, em termos de ter capacidade de provocar maior doença, também não mudou no mundo inteiro”.
“As pessoas entre os 30 e os 50 anos são pessoas que não estão vacinadas se continuam a contrair a infeção. Há uma pequena percentagem dessas pessoas que vai desenvolver doença moderada ou grave. Mas a probabilidade de morrerem é muito menor do que um grupo de risco da faixa etária dos 60 para cima com outras patologias associadas”, explica o virologista.
Sobre as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Simas concorda que “é muito pouco provável que se recue no desconfinamento” devido ao avançar da cobertura vacinal. O virologista considera que o “muro de imunidade” torna “muito difícil o vírus se disseminar comunitariamente de forma exponencial”.
Bernardo Gomes lembra que “estamos todos muito cansados” devido às restrições pandémicas e aproveita para “pedir cautela”.
“A pandemia ensinou-nos, uma vez atrás de outra, para sermos humildes, reconhecermos erros passados e termos a noção que temos de ir com a cautela devida”, acrescenta.
O médico de saúde pública lembra ainda que há um conjunto “muito significativo” de pessoas que apenas tem uma dose da vacina da AstraZeneca, cuja a “efetividade de proteção contra a hospitalização não é marcada e é preciso ter a devida cautela e o peso associada às palavras para passar essa cautela voluntária às pessoas”.
Bernardo Gomes considera que Marcelo Rebelo de Sousa não foi cauteloso nas declarações e afirma que existe a possibilidade ser necessário “fazer algumas restrições locais”.
“Tudo aquilo que é um Rt acima de 1 tem um crescimento exponencial. Aquilo que vai acontecer de alguma forma é que os internamentos vão continuar a subir durante os próximos dias e nós precisamos de ter cautelas redobrada sem Lisboa e Vale do Tejo. E eu faço um apelo: quem está a vender uma opção de deixar a opção passar, está a ser irresponsável”, reforça o médico de saúde pública.
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