A dois meses das eleições legislativas antecipadas, o Chega parece empenhado em inaugurar um mercado de transferências como nunca se viu na política portuguesa. Sem desmentir as negociações com o deputado social-democrata Maló de Abreu, a deputada Rita Matias vê com naturalidade a troca de partido por parte de homens e mulheres que até há poucos dias representavam outras bandeiras.
"Se alguém se desencantou no seu partido e reconhece que o Chega é a alternativa, significa que fez o único caminho possível".
Garantindo que os dias de Congresso em Viana do Castelo devem concentrar-se na discussão de ideias e não na discussão de lugares, recusa a ideia de que o Chega esteja a ficar com os "restos" dos outros partidos de direita: "Todos nós temos passados políticos e não somos restos de nenhum partido".
Quando o tema passa para a cenarização do pós-eleições, há uma garantia que os membros do Chega parecem ter na cabeça: "Se o PSD não tiver capacidade de assumir as bandeiras do Chega, teremos de apresentar moção de rejeição". Apesar de a solução assumida pela deputada poder representar a continuidade do PS no governo, Rita Matias transfere essa responsabilidade para Luís Montenegro: "A porta fica aberta para a continuação de um governo PS porque o PSD não se demove da sua posição".
Luís Montenegro e Rui Rocha já garantiram que depois de 10 de março não há conversas com André Ventura, mas Rita Matias usa o passo atrás de Albuquerque na Madeira para antecipar uma recuo semelhante na São Caetano à Lapa: "A palavra de Montenegro a mim diz-me muito pouco".