A Rússia afirmou na quinta-feira, 9 de março, ter disparado mísseis hipersónicos Kinzhal no âmbito da ofensiva contra a Ucrânia. São vários os países que estão a tentar desenvolver esta tecnologia. De acordo com os especialistas, os mísseis hipersónicos representam desafios para os radares devido à sua alta velocidade e grande capacidade de manobra.
O que é um míssil hipersónico?
Um míssil hipersónico tem a característica de se deslocar a velocidades superiores a cinco vezes a velocidade do som (Mach 5).
Os mísseis hipersónicos são muito mais rápidos e ágeis do que os convencionais o que os torna muito mais difíceis de interceptar por sistemas de defesa antimísseis. São capazes de atingir uma velocidade de pelo menos cinco vezes superior à velocidade do som (Mach 5), ou seja, mais de 6.100 km/h.
Podem manobrar em pleno voo, o que os torna muito mais difíceis de detetar e intercetar do que outros projéteis.
O tempo de voo é reduzido, pelo que diminui a probabilidade de serem intercetados. Alguns modelos podem carregar ogivas convencionais ou nucleares.
Quem tem (ou afirma ter) mísseis hipersónicos?
Vários países tentam desenvolver mísseis hipersónicos. Rússia, Coreia do Norte e Estados Unidos anunciaram em 2021 que tinham realizado testes, reacendendo os receios de uma nova corrida ao armamento. O Irão anunciou em novembro de 2022 ter produzido o seu primeiro míssil balístico hipersónico, segundo o comandante da Força Aeroespacial da Guarda Revolucionária, Amirali Hajizadeh.
Rússia
A Rússia estará à frente com o desenvolvimento de vários tipos desses mísseis. o Zircon, que Moscovo anunciou a 7 de novembro de 2022 ter testado com sucesso a partir de um submarino, o Kinzhal, que já equipa a Força Aérea, e mesmo o planador hipersónico Avangard que, depois de lançado, pode carregar uma carga nuclear, voar até 33.000 km/h e mudar de forma imprevisível de rumo ou altitude.
Em agosto, Moscovo anunciou que tinha enviado aviões equipados com mísseis hipersónicos de última geração para Kaliningrado, um enclave russo cercado por países da NATO onde o a guerra na Ucrânia exacerbou as tensões.
Em março, nas primeiras semanas da invasão da Ucrânia, a Rússia anunciou que tinha usado mísseis hipersónicos Kinzhal (ou Kinjal) para destruir um depósito de armas subterrâneo, no leste da Ucrânia.
Alguns factos sobre o Kinzhal, que significa "punhal" em russo:
- É um míssil balístico lançado do ar, capaz de transportar ogivas nucleares ou convencionais. A Ucrânia diz que a Rússia lançou seis na quinta-feira que mataram pelo menos seis civis.
- Tem um alcance de 1.500 a 2.000 km podendo transportar uma carga útil de 480 kg. Pode atingir velocidades de até Mach 10 (12.350 Km/h).
- O Kinzhal é uma das seis armas de "próxima geração" reveladas pelo Presidente Vladimir Putin num discurso em março de 2018.
- Putin disse em dezembro de 2021, dois meses antes da invasão da Ucrânia, que a Rússia era a líder global em mísseis hipersónicos e que, quando os outros países os tivessem, a Rússia já teria desenvolvido tecnologia para neutralizar essas novas armas.
- A Rússia enviou caças armados com mísseis Kinzhal para a Síria pela primeira vez em 2021, segundo analistas militares.
- O Ministério da Defesa da Rússia afirmou ter disparado um míssil Kinzhal contra um depósito de munições no sudoeste da Ucrânia em 19 de março de 2022, o primeiro uso conhecido da arma em combate. Desde então, disparou mísseis Kinzhal em várias outras ocasiões na Ucrânia.
Em fevereiro de 2023, Putin anunciou que o novo míssil balístico intercontinental russo Sarmat entrará ao serviço este ano.
"Estamos a prestar particular atenção, como sempre, ao reforço da tríade nuclear. Este ano, os primeiros lançadores do sistema de mísseis Sarmat serão postos em serviço", disse Putin num vídeo por ocasião do Dia do Defensor da Pátria.
Estados Unidos
Os Estados Unidos ainda não têm mísseis hipersónicos no seu arsenal, mas estão a trabalhar para isso. A Darpa, braço científico do exército americano, anunciou na semana passada que testou com sucesso seu míssil hipersónico HAWC (Hypersonic Air-Breathing Weapon Concept) com propulsão aeróbia, ou seja, usa oxigénio presente na atmosfera para a combustão.
O Pentágono também está a desenvolver o planador hipersónico chamado ARRW (pronuncia-se Arrow), mas o primeiro teste em grande escala falhou em abril passado.
China
A China tem vários projetos, que parecem ser inspirados em programas russos, de acordo com um estudo recente do Centro de Pesquisa do Congresso dos EUA (Congressional Research Service). Em particular, testou um planador hipersónico com alcance de 2.000 km capaz de voar a mais de Mach 5 e realizar “manobras extremas”, segundo este estudo.
Coreia do Norte
No início de novembro de 2022, a Coreia do Norte lançou uma série de mísseis e garantiu que testou com sucesso um míssil planador hipersónico, que, a confirmar-se a veracidade da informação, constituiria um grande avanço tecnológico.
Irão
Em novembro de 2022, o Irão afirmou que tinha produzido o seu primeiro míssil balístico hipersónico.
"Este míssil balístico hipersónico pode passar escudos de defesa antiaérea. Poderá passar por todos os sistemas de defesa antimísseis", garantiu o comandante da Força Aeroespacial da Guarda Revolucionária, Amirali Hajizadeh. "Este míssil, que tem como alvo os sistemas antimísseis inimigos, representa um grande avanço no domínio dos mísseis Este sistema é muito rápido e é capaz de manobrar tanto dentro como fora da atmosfera".
Outros países
França, Alemanha, Austrália, Índia e Japão querem desenvolver sistemas hipersónicos e, segundo o Centro de Pesquisa do Congresso, Israel e Coreia do Sul já iniciaram pesquisas sobre a tecnologia.
Hipersónico ou balístico, qual o míssil mais perigoso?
Mísseis hipersónicos não são necessariamente mais rápidos que os mísseis balísticos.
Um míssil balístico é lançado a grande velocidade para o espaço onde, fora da atmosfera, não encontra resistência. Começa então a cair em direção ao seu alvo, sempre à mesma velocidade, exceto após a reentrada na atmosfera, o que o retarda um pouco.
Um míssil hipersónico voa a baixa altitude. É também lançado em alta velocidade, mas é desacelerado pela atmosfera. E como desacelera ao longo do percurso, pode acabar por ser mais lento que um míssil balístico.
A grande diferença é que o míssil hipersónico é manobrável, o que torna difícil prever a sua trajetória e dificultar a sua intercetação. Os sistemas antimísseis THAAD podem intercetar projéteis a alta velocidade, mas são concebidos para proteger uma área limitada.
Se for um planador hipersónico, os sistemas de deteção antimísseis, que medem fontes de calor, correm o risco de não o reconhecer antes de ser lançado, o que já é tarde demais para intercetá-lo, explica o Pentágono.