Jornada Mundial da Juventude

JMJ, uma experiência transformadora

Enquanto se vivem umas JMJ parece que se sai do mundo, dá a sensação que ele pára e que nada de mal acontece. Tudo parece falar de Deus, de amor, de alegria, de generosidade, acolhimento, mesmo no meio da confusão. Sair de uma cidade assim é algo indescritível.

JMJ, uma experiência transformadora
Foto Lúcia Morgado

Sou Lúcia Morgado, da diocese de Viseu, tenho 48 anos, nos quais tive a possibilidade de viver duas JMJ como peregrina (Paris e Roma) e três outras como voluntária (Madrid, Rio de Janeiro e Cracóvia). Na oportunidade que surge em Lisboa, sem hesitações, voltei a inscrever-me como voluntária.

Neste percurso tive a possibilidade de viver a JMJ com os três Papas, algo que me enriqueceu pessoalmente, porque cada um me trouxe, e à JMJ, algo diferente.

Foi em 1997, já com 22 anos, que vivi a minha primeira JMJ em Paris. No início, o “caos” das deslocações, das cores, das filas para as refeições e para tudo o resto, dos sons cheios de alegria, dos sorrisos, o receio de não perdermos o nosso grupo, foi dando lugar a algo muito surpreendente, descobrir formas novas de estar com os outros.

Foto Lúcia Morgado

Uma memória que emociona

Se me perguntarem se esta primeira experiência foi um grande encontro espiritual, a resposta é negativa, pois estava demasiado maravilhada com o que vinha de fora. Mas houve um momento de viragem, a noite da Vigília e da Missa de Envio.

Ver tanta gente a silenciar o coração perante um Papa que se fez jovem e próximo, que nos tocou, sem nos tocar fisicamente, foi indescritível. É memória que me chega a emocionar.

Roma: outra cidade, outro Papa

Claro que em 2000 parto para Roma onde vivo uma JMJ completamente diferente, com um Papa já mais frágil e em que a profundidade dos momentos, foi mais significativa. Nessa JMJ já o encanto tinha dado lugar a uma experiência de encontro em três dimensões, comigo, com os outros e com Deus.

É inevitável, quando falo da minha experiência, desviar-me do centro da JMJ. A grande revelação dessa JMJ, foi ser capaz de sentir que a alegria contagiante dos jovens, a mensagem cristã lá partilhada e tudo o mais que uma JMJ ofereceu, fizeram sobressair a pessoa de Jesus, em quem acredito.

Durante alguns anos deixei de participar, também porque senti que regressar nessa altura não fazia sentido para mim. Estas decisões também passam pelo que sentimos.

Foto Lúcia Morgado

Ser voluntária: o tempo de dar e devolver

Só em Madrid volto, mas desta vez, percebo que o devo fazer como voluntária, colocando-me ao serviço, algo que repito no Rio de Janeiro e em Cracóvia. Se até essa altura tinha recebido, passou a ser tempo de dar e devolver aos que me rodeavam o muito que eu já tinha recebido nas duas primeiras JMJ.

Sempre que fui como voluntária à JMJ fi-lo, não porque quisesse, mas porque senti que era a forma certa de estar. Viver a JMJ desta forma, é estar desapegado do que cada um quer, para permanecer centrado no outro, algo que transforma e responsabiliza.

Foto Lúcia Morgado

Quando um voluntário é abordado, quem o procura, tenta encontrar um rosto que apazigue, ajude, cuide e resolva. Sem dúvida que, enquanto voluntária, senti que dei espaço ao outro e, só no regresso à vida quotidiana é que dei conta da gratidão e alegria imensa que se sente.

Enquanto voluntária trabalhei na distribuição dos kits, nos cordões de segurança, no controlo das entradas, nos postos de informação, nos alojamentos comunitários, entre outros, mas foi os que se cruzavam comigo na rua e me viam a usar a t-shirt de voluntário e me abordaram, os que mais me marcaram, porque viram em mim a possibilidade de ultrapassar alguma dificuldade, de encontrar em mim uma espécie de “porto de abrigo”.

O Mundo pára e parece que nada de mal acontece

Enquanto se vivem umas JMJ parece que se sai do mundo, dá a sensação que ele pára e que nada de mal acontece. Tudo parece falar de Deus, de amor, de alegria, de generosidade, acolhimento, mesmo no meio da confusão. Sair de uma cidade assim é algo indescritível.

Voltar a fazer parte do mundo torna-nos mais do que passageiros, intervenientes mais atentos.

Para muitos é difícil compreender o que leva milhões de jovens a viver um evento com as características da JMJ, mas talvez só seja possível fazê-lo numa atitude de fé. Na JMJ a multidão das pessoas revela maravilhosamente a intimidade do amor de Deus.

Uma experiência desta ordem, para além de surpreender os jovens, faz brotar Jesus de forma especial no coração de cada um e, através d’Ele, levar os jovens a ser testemunho de uma vida mais fraterna. Tenho bem presente em mim que a passagem pelas JMJ foram um marco na minha vida.