Sempre discreto, nunca fez questão de reclamar a autoria de uma frase que se tornaria slogan da democracia portuguesa. A origem perdeu-se no tempo e na repetição, mas foi Jorge Sampaio que. pela primeira vez, colou ao 25 de Abril o advérbio de tempo que o fez para sempre.
Quando as sardas e a cor do cabelo lhe deram, na infância, a alcunha de cenoura, ainda ninguém podia adivinhar o furacão ruivo que viria a tornar-se na luta pela liberdade e pela democracia.
Jorge Fernando Branco de Sampaio, filho de um médico e de uma professora de Inglês, nasceu e cresceu em Lisboa, mas passou parte da infância nos Estados Unidos e em Inglaterra, onde a política o despertou pela primeira vez.
Nem sempre foi bom aluno, chumbou algumas vezes e quis a suprema ironia que a pior nota no liceu tivesse sido na disciplina de Organização Política.
É já na Faculdade de Direito de Lisboa que vai a votos pela primeira vez. Ganha a presidência da associação de estudantes por apenas um voto. Bastou para um ano depois se tornar um dos grandes líderes da revolta estudantil de Lisboa, contra o regime de Oliveira Salazar.
A oposição à ditadura foi a primeira grande batalha da vida de Jorge Sampaio. Primeiro na rua, como estudante e mais tarde na barra do tribunal plenário de Lisboa, já como advogado.
O Partido Socialista só entra na vida de Jorge Sampaio em 1978. Um ano depois de se tornar militante foi eleito deputado, rapidamente passou a líder parlamentar e uma década mais tarde chegou à liderança do PS.
Seguiram-se a Câmara de Lisboa e a Presidência da República. Em 2006, deixou Belém e foi escolhido pela ONU para ser enviado especial na luta contra a tuberculose.
Um ano depois, voltou a ser a escolha das Nações Unidas para um dos mais importantes cargos mundiais: o de Alto Representante para a Aliança das Civilizações.
Morreu esta sexta-feira, aos 81 anos.
Velório realiza-se no sábado e funeral no domingo
O velório de Jorge Sampaio vai realizar-se este sábado, no antigo Picadeiro Real, em Belém, e o funeral realiza-se no domingo.
As cerimónias fúnebres vão ter honras de Estado, mas, por vontade da família, serão mais simples do que as de Mário Soares.
Este sábado de manhã, o corpo do antigo Presidente da República sai do Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, em direção ao Picadeiro Real de Belém.
Com escolta de batedores da PSP, tem apenas uma paragem, em frente à Câmara Municipal de Lisboa, para uma homenagem, prevista para as 10:35, de onde seguirá às 10:45 para o Museu dos Coches, passando pela Praça do Comércio.
O velório, que será aberto ao público, tem início às 12:00 e decorre até às 23:00.
No domingo, a cerimónia oficial vai decorrer no Mosteiro dos Jerónimos a partir das 11:00. A cerimónia, não religiosa, vai contar com discursos da família e das três mais altas figuras do Estado.
Às 13:00, o corpo de Jorge Sampaio segue para o cemitério do Alto de São João, onde vai ficar no jazigo da família, numa cerimónia privada.
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