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Sebastião Bugalho: “Pinto da Costa é um senhor feudal. Tem um trono e umas masmorras”

É benfiquista mas diz que Vieira fez com que sentisse vergonha do futebol português e Jesus também o desiludiu. Simpatiza com Pinto da Costa (até jantava com o presidente do FC Porto) e rende-se à “personalidade fascinante” de Sérgio Conceição. A Rúben Amorim chama-lhe “cavalheiro do futebol”. O comentário político de Sebastião Bugalho deu lugar à análise desportiva.

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“Se me dessem a escolher entre almoçar com Luís Filipe Vieira e jantar com Pinto da Costa, preferia jantar com Pinto da Costa. Tem mais histórias para contar.”

Sebastião Bugalho diz que simpatiza com o presidente do FC Porto “por ser uma figura que não se cansa da vida” e aborda os dois mundos tantas vezes associados ao dirigente, desde o lado da glória desportiva às alegações sobre movimentos controversos nos bastidores do futebol: “Ele é um senhor feudal. Tem um trono e umas masmorras. Esse outro lado não faz parte do meu mundo, mas acho-lhe graça do ponto de vista histórico.”

Sobre Luís Filipe Vieira, revela que foi uma das razões para, a partir de certa altura, ter ficado com vergonha do futebol português e até ter deixado de ver os jogos do Benfica: “Gosto muito do Benfica e isto vai soar horrível para muitos adeptos, mas havia momentos em que a arbitragem não me parecia imparcial. Mas se fosse do FC Porto também teria sentido isso noutras alturas e se o Aston Villa [clube de Sebastião Bugalho no futebol inglês] for campeão com favores de arbitragem, também irei denunciar isso.” Ainda em relação ao anterior presidente das águias, Bugalho diz que “felizmente, há personagens que são mais passado do que futuro”.

“Jorge Jesus trabalha num estado securitário. É normal que se sinta pouco seguro numa democracia”

Esta semana, de partida para a Arábia Saudita, Jorge Jesus diz que chegou a Portugal e ficou surpreendido pela negativa: “Isto já não é o meu país, está muito confuso, falta segurança.”

O jornalista e comentador de política da SIC, Sebastião Bugalho, revela não simpatizar com as atitudes e comportamentos de Jorge Jesus desde que o técnico estava ao serviço do Benfica e encontra uma razão para estas palavras do atual treinador do Al Hilal: “Ele agora vive num estado securitário. É normal que se sinta pouco seguro numa democracia. É a única resposta que tenho para lhe dar.”

Sebastião Bugalho é adepto do Benfica e lembra uma decisão de Jorge Jesus que lhe deixou uma má memória: “Num dos anos em que ele ganhou o campeonato pelo Benfica, não deixou o Paulo Lopes [terceiro guarda-redes] jogar para também se sagrar campeão. O Paulo Lopes a chorar no banco, estava no estádio, nunca mais me esqueci. Achei aquilo indecente.”

O comentador da SIC diz preferir aquilo que intitula como “os cavalheiros do futebol”, dando os exemplos de “Bruno Lage, Rui Vitória ou Rúben Amorim”.

“Rúben Amorim é admirado e respeitado ao mesmo tempo, características que fazem inveja a muitos políticos”

Sebastião Bugalho não conhece Rúben Amorim, mas admite gostar muito do treinador do Sporting: “Fazem falta mais como ele. As pessoas gostam dele e respeitam-no, tem essas características de fazer inveja a muitos políticos. Os bons líderes têm aquele equilíbrio. Aquela ideia de ‘eu ia para a guerra contigo, mas não era só por acreditar em ti e também por gostar de ti’. O Rúben Amorim consegue fazer isso.”

Apesar de ser adepto do Benfica, gosta do momento atual do Sporting e prefere a forma como o plantel foi montado para esta época por oposição aos encarnados.

“Sou um benfiquista ecuménico e também gosto muito deste momento do Sporting. Fez um bom mercado e tem um plantel equilibrado e consistente. Já o plantel do Benfica parece um bocadinho colado a cuspo”.

Apesar de preferir a empatia de Rúben Amorim, o comentador de política admite que gostava de entrevistar Sérgio Conceição: “Ele tem um lado mais furioso, mas consegue mobilizar soldados. Muitos adeptos do FC Porto são hoje mais adeptos de Sérgio Conceição. Há ali algo nele difícil de entender e, por isso, gostava de lhe fazer uma entrevista. Cabe ao jornalismo tentar explicar aquilo que não está à vista. É uma personalidade fascinante.”