Orçamento do Estado

Opinião

"Aí está a crise política" perto do "fim da Geringonça": será a culpa de Jerónimo?

Ricardo Costa e José Gomes Ferreira comentam o atual momento negocial do Orçamento do Estado para 2022.

Ministro das Finanças, João Leão, durante a audição na Comissão de Orçamento e Finanças, no âmbito da apreciação, na generalidade, da Proposta de Lei n.º 116/XIV/3.ª (GOV) - Aprova o Orçamento do Estado para 2022, na Assembleia da República, em Lisboa.
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Para Ricardo Costa e José Gomes Ferreira, comentadores da SIC, o atual momento negocial do Orçamento do Estado para 2022 reflete uma crise política e uma impossibilidade governativa em Portugal.

"Aí está a crise política" é a forma que José Gomes Ferreira escolhe para abrir o espaço de comentário, afirmando que, mesmo que o Orçamento seja aprovado em Assembleia da República, não existirão condições de governabilidade.

"Se a crise não for agora, é no verão que vem ou depois", diz o comentador, ao mesmo tempo que afirma ser "o fim da Geringonça".

José Gomes Ferreira refere o caráter crónico desta crise devido à possibilidade de "coligações negativas" por parte dos partidos da oposição, num momento em que o país assiste a "um aumento da despesa pública e à diminuição da receita e da produtividade".

O comentador lembra também que é importante "olhar para o papel do PSD".

"Rio pode chegar ao pé de Marcelo e dizer que se abstém e viabiliza o Orçamento, se Marcelo lhe prometer eleições em maio do ano que vem", aponta, dizendo que tal estratégia retiraria "a margem de manobra a António Costa".

Ricardo Costa afirma que esta estratégia teria lógica se Rui Rio "dominasse o partido", contudo, "os militantes do PSD perceberam que o vento mudou", e, se Rio fizer isso, "não tem condições, sendo candidato a umas diretas".

Termina José Gomes Ferreira referindo que esta situação é prejudicial às empresas, em especial, às multinacionais que atuam em Portugal.

Na opinião de Ricardo Costa, "o foco deve manter-se na Esquerda, pois a grande mudança é a do PCP", sendo que, de seguida, se seguiu uma análise à recente evolução da política portuguesa.

"A Geringonça começa porque o PCP quis, na noite das eleições legislativas de 2015. 'O PS só não forma Governo se não quiser' foi dito por Jerónimo nessa noite, e acabou por ser uma das frases mais importantes desde o 25 de abril. O Bloco de Esquerda é completamente apanhado de surpresa, o PS já tinha tido conversas antes. PSD e CDS ficaram sem saber o que se estava a passar. E, agora, quem parece decretar o fim [da Geringonça] é o próprio Jerónimo de Sousa", refere Ricardo Costa.

A situação justifica-se, de acordo com o comentador da SIC, por um processo evolutivo histórico do próprio Partido Comunista Português.

"O PCP tinha um 'antigo testamento', que seguiu desde o 25 de novembro de 1975 e que segue à risca, exceto no poder autárquico. Em 2015, escreve um novo testamento, e agora as forças internas do PCP regressam um pouco ao antigo testamento, sem renegar o novo."

Defende ainda que o PCP não tem nada a ganhar e muito a perder, mas que "não é assim que pensa o PCP".

"O PCP parece querer regressar ao seu lugar histórico, e é estranho o PS não ter percebido", completa.

Ricardo Costa continua referindo que "quem deu as cartas e agora retirou o baralho foi o PCP, porque é um partido que não pensa como os outros".

"Pode ter uma grande derrota, mas isso não é o mais importante, o que é importante é que tem lugar no quadro político português, que luta por uma sociedade diferente [o ideal político de Karl Marx e Friedrich Engels]. Na altura, o PS estava em momento de força relativa, tinha perdido eleições. Se o PS tivesse ganho, não havia Geringonça. Neste momento, o PS vem de umas eleições autárquicas onde foi abalroado em Lisboa, e o PCP percebeu que o PS se tentou num partido maioritário que domina completamente a política portuguesa, e para o PCP isso poderia ser mais perigoso, mesmo que perca votos, porque isso é mais importante. Lá está, é o regresso ao antigo testamento", termina o comentador.

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