Depois de vários países europeus terem anunciado a suspensão temporária da administração da vacina da AstraZeneca, também Portugal optou por seguir o mesmo caminho. O anúncio foi feito esta segunda-feira, numa conferência de imprensa conjunta do Infarmed, da Direção-Geral de Saúde e da task force para vacinação. No entanto, a decisão está a dividir opiniões devido à falta de evidência científica que associe a vacina aos episódios tromboembólicos reportados.
Manuel Pizarro, eurodeputado do PS, considera que “esta é a melhor forma de transmitir confiança no processo de vacinação”, por outro lado José Gusmão, eurodeputado do Bloco de Esquerda, teme que esta decisão “venha criar a problemas à credibilidade do processo de vacinação”.
“Todo este processo tem, pelo menos, um método que é o método de deixar as pessoas totalmente tranquilas em relação à segurança que rodeia todo o processo de vacinação. Mesmo perante suspeitas muito pouco fundamentadas – porque a verdade é que não há neste momento nenhuma certeza científica de que aqueles casos de tromboembolismo estejam associados à administração da vacina”, afirma Manuel Pizarro, em entrevista à Edição da Tarde.
O eurodeputado socialista reconhece que a tomada de “decisões isoladas” por parte de outros partidos tornou “muito difícil não fazer prevalecer o tal princípio da prudência”. “Na dúvida, suspende-se, na expectativa de notícias que nos permitam, com maior segurança ainda, retomar o processo de vacinação”, acrescenta.
José Gusmão critica a mudança de opinião das autoridades de saúde portuguesas, sem que houvesse qualquer evidência científica para o justificar. O eurodeputado bloquista afirma que a tomada de decisão de suspender a vacinação com a AstraZeneca não pode ser justificada pela “pressão pública” e avança que houve também “alguma guerra de desinformação entre as várias empresas farmacêuticas”.
“Neste caso, [as autoridades] tomaram uma decisão contra o seu próprio critério científico – e isso é muito fácil de verificar na conferência de imprensa de ontem [segunda-feira]. Quer o representante do Infarmed, quer Graça Freitas, em nome da DGS, explicam que a vacina é segura, que não há razão para preocupações, que não houve nenhum caso em Portugal, que os benefícios ultrapassam de longe o risco e, portanto, vamos suspender a vacina. Temo que este tipo de comunicação contraditória vá criar muito mais problemas ao processos de vacinação do que tinha feito o comunicado do dia anterior”, afirma.
Manuel Pizarro critica o que afirma ser uma insinuação de José Gusmão de que tenha existido pressão política no sentido de suspender a administração desta vacina. “Em Portugal, tenho a certeza absoluta que a decisão tem fundamento técnico e não um fundamento político. E quem afirmar o contrário tem de fazer uma qualquer demonstração da razão pela qual quer fazer essa afirmação”, afirma, sublinhando acreditar que “esta é a melhor forma de transmitir confiança no processo de vacinação”.
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