Fazer compras, preparar camarins, tratar da alimentação, dos transportes, da acreditação, da segurança... São muitas as tarefas a cumprir no backstage de um festival de música como o Vodafone Paredes de Coura. É um trabalho a tempo mais do que inteiro. O backstage funciona 24 horas por dia – uns artistas chegam de manhã cedo, para fazer soundchecks, à mesma hora em que outros estão a partir, depois dos concertos da madrugada.
“Isto é como se fosse a nossa casa nestes dias, e é como se estivéssemos a receber os nossos amigos em nossa casa. Só que estes amigos são um bocadinho especiais”, diz Janete Carvalho, coordenadora do backstage do festival.
Natural da vila de Paredes de Coura, Janete faz isto há 12 anos. Coordena uma equipa, composta por 12 pessoas (com mais quatro a dar apoio), que se divide em três turnos, ao longo do dia, para garantir toda a logística.
"Bandas felizes, espetáculos felizes"
Janete Carvalho sublinha que é preciso ter bandas felizes no camarim, para que, nos espetáculos, isso se reflita. "Bandas felizes, espetáculos felizes”, tem como lema.
E se, como Janete diz, estes os artistas são como "amigos especiais” é porque são "amigos" que trazem algumas exigências - de bebidas específicas, a flores ou música nos camarins.
Um típico camarim tem lá dentro plantas, sofás, candeeiros com luzes baixas e acolhedoras (“os artistas nunca querem luzes fluorescentes!”), além de comida e bebida. Existe também uma parte em estilo de escritório, com zona de trabalho. E há algumas comitivas grandes, como foi, este ano, o caso de Fontaines D.C., para quem é preciso mais do que um espaço - a banda irlandesa precisou de quatro!
No entanto, adianta a coordenadora do backstage, o artista mais desafiante, nesta edição, foi mesmo a norueguesa Girl In Red. Mas Janete Carvalho conta como, muitas vezes, consegue “dar a volta” aos pedidos dos artistas.
“Cada vez mais, utilizamos a estratégia de lhes dar a conhecer tudo o que é português. Se eles pedem vinhos estrangeiros, dizemos: “Estamos em Portugal, os vinhos são muito bons, confiem!””
"Antes pedia-se coisas muito mais estranhas"
Ainda assim, a responsável do backstage considera que as bandas “estão a ficar cada vez mais normais".
“Eles antes pediam coisas muito mais estranhas!”
Agora, explica, os artistas estão cada vez mais acessíveis, preocupando-se mais em ter no camarim coisas saudáveis do que extravagantes.
“Bebem muitos shots de gengibre, muitas bebidas energéticas, cada vez mais tentam as coisas bio e o que é mais orgânico. Pede muito coisas saudáveis, muito húmus e vegetais”, aponta.
A comida da cantina da escola: "Há muitos que adoram!"
Uma curiosidade que pode ser surpreendente: as refeições dos artistas vêm da cantina da escola primária de Paredes de Coura e é lá que grande parte deles come mesmo – juntamente com todo o staff, sem qualquer divisão.“Há muitos que adoram! Chegam lá e as cadeiras são pequeninas!”
Janete Carvalho admite que o trabalho de backstage é muito exigente, mas garante que não o trocava por outro. Uma das partes boas, revela, é a relação que se cria com os artistas, mesmo após o festival.
“Seguimo-nos nas redes, vamos falando e, quando vêm Portugal, dizem que vão estar em tal sítio e se queremos ir vê-los”, conta.
“É uma ligação familiar - mas daquelas famílias que só se veem uma vez por ano ou de dois em dois anos”, ri.
